Douglas Slocombe, famoso diretor de fotografia britânico que trabalhou com Steven Spielberg nos primeiros três filmes sobre Indiana Jones, morreu esta segunda-feira aos 103 anos de idade, informou a sua filha.

Aconteceu num hospital de Londres, onde era tratado desde janeiro, depois de uma queda, indicou a fotógrafa Georgina Slocombe.

"É triste para mim, eu sou a sua única filha, a minha mãe morreu há alguns anos. Éramos muito próximos, viajávamos muito pelos 'sets' de rodagem, sempre juntos. Era formidável, foi ele quem me introduziu no mundo do cinema", afirmou.

"Ele adorava o seu trabalho. Para ele, todos os filmes eram diferentes, ele adaptava as suas ideias aos argumentos. Ele gostava de trabalhar a preto e branco. E mesmo quando filmava a cores, trabalhava bastante sobre os contrastes", explicou Georgina Slocombe. "Ele era muito amado no mundo do cinema."

De facto, a era de ouro do cinema britânico perdeu uma das suas derradeiras testemunhas: Douglas Slocombe, nascido em Londres a 10 de fevereiro de 1913, trabalhou em alguns dos títulos mais importantes, nomeadamente em quase todos os que saíram dos míticos Ealing Studios, incluindo "A Dança da Morte" (1945), "Hue & Cry - Grito de Indignação" (1947), "It Always Rains on Sunday" (1947), "Oito Vidas por Um Título" (1949), "Roubei Um Milhão" (1951), "O Homem do Fato Claro" (1951) e "Mandy, a Surda Muda (1952).

Slocombe começou como fotógrafo para as revistas Life e Paris-Match. Estava em Danzig, na Polónia, antes da invasão nazi em setembro de 1939 e as suas imagens entraram na curta-metragem documental "Lights Out in Europe" (1940). Escapou do país de carroça e cavalo e a BBC considera que filmou o início da Segunda Guerra Mundial.

Depois da sair dos estúdios Ealing, dividiu-se entre as duas margens do Atlântico e foi o responsável pela fotografia de filmes como "O Criado" (1963), "Revolta em Batasi" (1964), "Por Favor Não Me Mordam o Pescoço" (1967), "O Leão no Inverno" (1968), o original "Um Golpe em Itália" (1969), "Tchaikovsky, Delírio de Amor" (1970), "Jesus Cristo Superstar" (1973), "O Grande Gatsby" (1974), "Rollerball - Os Gladiadores do Século XXI" (1975) e   "007 - Nunca Mais Digas Nunca", que marcou o regresso não oficial de Sean Connery como James Bond (1983).

O seu legado ficou consolidado com a célebre colaboração com Steven Spielberg em "Os Salteadores da Arca Perdida" (1981), "Indiana Jones e o Templo Perdido" (1984) e "Indiana Jones e a Grande Cruzada" (1989), com este último a marcar a sua reforma do cinema.

Aquele que, com 80 filmes, foi um dos grandes mestres da fotografia no cinema, nunca ganhou o Óscar: foi nomeado pelo primeiro "Indiana Jones" e ainda "Viagens com a Minha Tia" (1972) e "Julia" (1977).