O filho de um dos realizadores de "Branca de Neve e os Sete Anões" não poupou nas palavras para arrasar as intenções da Disney para a nova versão em imagem real que chegará aos cinemas em março de 2024 com Rachel Zegler e Gal Gadot.

Atualmente com 91 anos, David Hand, com o mesmo nome do pai, falecido em 1986, descreveu o projeto ao jornal britânico The Telegraph [acesso pago] como "woke" e "insultuoso" ao original clássico de animação. E acrescentou que tanto o seu pai como o próprio Walt Disney "estariam a dar voltas nos seus túmulos".

Baseado no conto de fadas de 1812 dos irmãos Grimm de 1812, o filme de 1937 é o próximo clássico da Disney a ser  reimaginado pelo estúdio para um público moderno, mas os fãs têm vindo a manifestar nas redes sociais a sua desconfiança com as alterações, nomeadamente a alegada substituição dos sete anões por "criaturas mágicas".

A polémica aumentou nas ultimas semanas com a nova atenção dada a declarações antigas de Rachel Zegler, a protagonista da nova versão, que disse ter detestado o filme original.

O debate tem estado intenso nas redes sociais pelas opiniões e pelo tom de "desprezo" com que falou sobre o legado do clássico da animação de 1937 que descreveu como "extremamente datado" e como será diferente o filme de 2024: a atriz de 22 anos descreveu o comportamento do príncipe como o de um "perseguidor" e sugeriu que a nova história não será de amor, mas sobre como a Branca de Neve se vai tornar "uma líder fantástica".

"Podia escrever uma tese de mestrado sobre o pseudo feminismo que é criticar as princesas da Disney", disse uma utilizadora do TikTok numa das reações mais virais às declarações.

"Só porque uma mulher valoriza algo diferente não faz com que ela tenha menos valor. Algumas mulheres querem uma carreira e não o casamento. Algumas mulheres querem um casamento ou família e não um emprego. Algumas mulheres querem AMBOS. Todas devem ser ouvidas, vistas e valorizadas. Escrevam histórias sobre TODAS as mulheres e descrevam TODAS como tendo valor e sendo dignas em vez de tentar moldá-las numa imagem específica do que vocês consideram dignas", acrescentava.

David Hand, que também trabalhou como 'designer' na Disney na década de 1990, não se refere concretamente a Rachel Zegler, preferindo dizer que que estes os pontos de vista "percebem mal" o filme de 1937 e muitos dos jovens nem sequer o viram e "não sabem do que estão a falar".

Apesar de não existir sequer um trailer da nova versão, descreveu-a como "um conceito totalmente diferente e discordo totalmente dele, e sei que o meu pai e o Walt também discordariam bastante".

"É patético que as pessoas se sintam assim... essas são formas de arte no mundo do cinema de hoje", descreveu.

David Hand garante que o filme original foi feito "com bom gosto quando foi escrito... e discordo com todo este novo conceito... mas sei que a Disney está a ir por aí".

Acrescentou que era uma "desgraça" que o estúdio esteja "a tentar fazer algo de novo com algo que foi um sucesso tão grande anteriormente".

"Tenho medo do que eles farão com os primeiros filmes... o que eles pensam agora é tão radical. Mudam as histórias, mudam os processos de pensamento das personagens, simplesmente não são mais as histórias originais. Estão a inventar coisas 'woke' novas e simplesmente não gosto de nada disso", reforçou.

"Francamente, acho um pouco ofensivo o que eles possam ter feito com alguns desses filmes clássicos. Não há respeito pelo que o Walt Disney fez e pelo que meu pai fez... Acho que o Walt e ele estariam a dar voltas nos seus túmulos", disse.

David Hand sugeriu ainda que a Disney "não devia pegar num clássico e reescrevê-lo à sua própria imagem. Escolham outra coisa... se vão fazer isto, criem personagens novas mas não destruam ou tentem destruir algo que é um clássico e um filme bonito".

O filho do realizador também deu conta que se encontrou algumas vezes com Adriana Caselotti e garante que a atriz e cantora que deu voz à Branca de Neve original, falecida em 1997, ficaria “aterrorizada” com as sugestões de que a sua personagem não era feminista.

Ela "tinha muito orgulho do seu papel em 'Branca de Neve'. Tão adorável... ela viveu aquele papel durante toda a sua vida”, sublinhou.