A primeira longa-metragem de ficção do realizador Ico Costa, “Alva”, que se estreia esta semana, é um filme-desafio para o espectador pensar o que quiser sobre a narrativa, protagonizada por um não-ator.
"O filme é levemente inspirado em algumas histórias locais que circularam na imprensa", explicou Ico Costa à agência Lusa, contextualizando a narrativa, interpretada por Henrique Bonacho, no papel de um homem que deambula por uma floresta, depois de ter cometido um crime.
Grande parte de "Alva" não tem diálogos; a câmara testemunha os gestos e as passadas do protagonista, em fuga, sozinho, escondido em espaços inabitados.
"O filme era um desafio muito grande, de tentar que o espectador ficasse com a ideia de estar só a olhar para um homem durante mais de metade de um filme, sem falar. Que pensasse o que quisesse sobre o que o ator poderia estar a sentir, o que faria a seguir", afirmou Ico Costa.
A rodagem aconteceu na região de Oliveira do Hospital - o rio Alva dá nome ao filme -, foi feita em película 16mm, com uma equipa mínima e uma grande dose de improvisação, ancorada nos ritmos e movimentos de Henrique Bonacho, que Ico Costa conheceu num filme da realizadora Susana Nobre.
"Fiquei fascinado com ele, com uma história de vida muito dura e que, em alguns pontos, se toca com a história deste filme. E era uma pessoa com um olhar muito forte, a sua forma de andar, de se mexer, tudo me fascinava. Quando fizemos o primeiro 'casting' percebi que ele era a personagem para o filme. O filme adaptou-se muito a ele", recordou Ico Costa.
Para o realizador, esta "é uma história com uma componente de realismo relevante, mas é ficção".
"Estava mais interessado no que é que podia estar na cabeça de uma pessoa numa situação tão dramática e desesperada [depois de cometer um crime]. (...) Queria muito estudar como poderia reagir uma pessoa a uma situação destas, em que está completamente alienada do mundo, sozinho no meio de um lugar tão inóspito, como lidaria com os seus próprios demónios", resumiu.
"Alva" chega na quinta-feira aos cinemas portugueses um ano depois de ter tido estreia no Festival de Cinema de Roterdão, nos Países Baixos, e de ter integrado o IndieLisboa.
Ico Costa, que nasceu em Lisboa em 1983, estudou cinema em Portugal, Argentina e França e fez a primeira curta-metragem, "Libhaketi", em 2012. Em 2017, viu a curta "Nyo Vweta Nafta" ser premiada no festival Cinéma du Réel, em França e estreou o documentário "Barulho, Eclipse".
Atualmente, Ico Costa está a montar um documentário que rodou em Inhambane, Moçambique, onde regressará em 2021 para fazer outro filme, contou.
"Alva" estrear-se-á na quinta-feira em Lisboa, Porto, Coimbra e Leiria.
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