Quando foi revelado o cartaz da edição de 2019 do NOS Primavera Sound, alguns festivaleiros mostraram a sua desilusão nas redes sociais. As críticas também se refletiram no número de bilhetes vendidos - a fasquia das 30 mil pessoas conseguida em 2018 não deverá repetir-se este ano, com cerca de 20 mil pessoas a marcar presença no Parque da Cidade do Porto.
Apesar de a primavera dar nome ao festival, o inverno marcou parte do primeiro dia - as temperaturas baixaram e a chuva foi dando os ares da sua graça (mas também houve alguns raios de sol ao final da tarde). A meio da tarde o mau tempo deu trégua, o sol brilhou e a festa seguiu.
O arranque (entre os pingos da chuva) do NOS Primavera Sound:
A depressão Miguel não se sentiu tanto quanto se esperava. E os concertos arrancaram à hora marcada no Palco NOS, que abriu com Christina Rosenvinge. A “loira de Un hombre Rubio” teve a honra de inaugurar o palco principal do festival e desfilou pelos principais singles da sua carreira, mas centrou-se essencialmente no seu último disco. Um pouco antes, às cinco da tarde, Dino D’ Santiago apresentou o seu “Mundu Nôbu” no Palco Super Bock e celebrou com funaná.
A estrela da noite
Apesar dos primeiros concertos terem aquecido alguns festivaleiros, a grande festa ficou guardada para a meia-noite e meia, no Palco NOS. Solange (que não se deixou fotografar) foi a grande protagonista do primeiro dia do NOS Primavera Sound e conquistou a maior enchente da noite.
À hora marcada, a multidão centrou-se no centro do recinto do festival e ficou em silêncio. Mas aos primeiros acordes, as cerca de 20 mil pessoas fizeram-se ouvir. Acompanhada pela sua banda e os seus dançarinos, a irmã de Beyoncé começou por aquecer os fãs com uma intro, “Taking On The Lie”, atirando-se logo depois para "Down With the Clique".
Ao longo de todo o concerto, o seu mais recente disco, “When I Get Home”, foi o centro das atenções. As canções curtas do álbum (descrito pelo The Guardiam como um “disco do Snpachat”), estavam todas na ponta da língua dos fãs que não deixaram escapar o lugar na primeira fila.
Tal como no disco, os temas curtos - alguns duram apenas dois minutos -, criam movimento. Não houve tempos mortos e a energia não desceu de nível - ao longo do concerto, a norte-americana também provou que a sua música pode animar uma pista de dança.
O concerto de Solange foi o mais cuidado a nível de cenário no primeiro dia do NOS Primavera Sound. No centro do palco estava instalada uma grande escadaria, que serviu de cenário para os bailarinos.
“Stay Flo”, “Binz”, “Mad”, ”F.U.B.U.” e “Almeda” não ficaram de fora do alinhamento e garantiram um dos blocos mais fortes do concerto.
Depois de abrir o coração, a artista seguiu viagem com uma mão cheia de temas do novo disco, abrindo a pista de dança com "Losing You". Para o encore, como não poderia deixar de ser, Solange trouxe "Things I Imagined”, que foi encoada a uma só voz pelo público. Depois ainda houve tempo para “Do not touch my hair”.
Solange pode ter demorado um pouco a definir o seu estilo e som, mas foi acumulando experiências ao longo da vida que faz com que hoje brilhe em palco. E até agora, a cantora tem ido contra todas as probabilidades e triunfado na música, a fazer o que quer - a vida nem sempre é fácil para os irmãos mais novos das estrelas que chegam depois à indústria da música. Mas a irmã mais nova de Beyoncé conseguiu traçar o seu caminho, ser independente e fugir da sombra.
Viagem aos anos 90 com os Stereolab
Antes de Solange, os Stereolab também mereceram a atenção dos festivaleiros. Vindos diretamente do Reino Unido e dos anos 1990, a banda foi ao baú e levou o público numa viagem pelo final do século passado.
O concerto no NOS Primavera Sound foi um dos primeiros da banda depois de um hiato de 10 anos. Mas a pausa de uma década não se fez notar na energia que mostraram em palco.
No Palco SEAT, os britânicos apostaram nos seus grandes sucessos, como "French Disco", “Miss Modular” ou “Metronomic Underground”. "Brakhage", o tema da banda com mais reproduções no Spotify, também animou o Parque da Cidade do Porto.
O pôr do sol com os Built to Spill
Ainda antes do pôr do sol, às 19h50 em ponto, os Built to Spill subiram ao Palco NOS e ao som dos primeiros acordes voltaram a cair algumas pingas de chuva no Parque da Cidade do Porto. Os impermeáveis e alguns guarda chuvas começaram a sair das mochilas, mas as centenas de festivaleiros não arredaram pé.
A prolongada intro de guitarras e bateria serviu quase como um convite para os espectadores se irem juntando na frente do palco. Canção a canção, a banda norte-americana ganhou alguma energia e o público foi respondendo na mesma dose, mas sempre sem grande euforia.
Antes das nove e meia foi a vez do MorMor subir ao palco Super Bock. Com a brisa fria, o artista canadiano e a sua banda conseguiu aquecer o público com as suas canções que alternam entre o indie, o R&B e a pop.
“Heaven's Only Wishful”, o seu single mais elogiado, foi o mais celebrado pelos os fãs. Os temas mais lentos, como “Whatever Comes to Mind”, “Waiting on the Warmth” e “Pass The Hours” mereceram fortes aplausos. Os falsetes, como sempre, impressionaram.
A festa de Danny Brown
Pelo Palco NOS passou ainda Danny Brown, às 22h20, que também foi um dos protagonistas da primeira noite do NOS Primavera Sound. O rapper norte-americano, que conta com parcerias com Kendrick Lamar, Eminem e Earl Sweatshirt, fez o público saltar com as suas rapsódias e os seus versos livres.
"Arrepia até ao osso. Como o pós-punk. Este é o pós-hip-hop para a era pós-internet”, como descreve a organização do festival. E esta é a melhor definição para o espetáculo de Danny Brown no Parque da Cidade do Porto.
Durante cerca de uma hora, Danny Brown apostou em batidas certeiras e disparou versos que fizeram o público mexer e, sobretudo, aquecer. Não houve limites para soltar o corpo, para dançar sem parar.
As amigas Let's Eat Grandma
Ainda antes de Solange subir ao palco NOS, as Let's Eat Grandma (sim, é mesmo este o nome da banda) apresentaram as suas canções pop com ritmos que contagiam ao palco Pull & Bear. As amigas de infância Rosa Walton e Jenny Hollingworth trouxeram na bagagem o seu último disco, “I'm All Ears”, editado em 2018.
"Este synth pop etéreo é de agora e elas sabem como faze-lo. Eu sei que não estavas à espera, mas não se podem cortar as asas a quem já descolou! Sim, comeram a avó e vão comer-nos a nós e tudo o que estiver ao seu alcance a seguir; não estás orgulhoso? Olha como voam! Ouve-as a voar. O mundo é todo ouvidos”, brinca a organização do festival no texto de apresentação da banda britânica.
E têm razão: no NOS Primavera Sound, as Let's Eat Grandma conseguiram conquistar mais umas mãos cheias de fãs, a julgar pelo entusiasmo com que foram sendo brindadas durante o concerto.
Aldous Harding (17h00), Courtney Barnett (19h50), J Balvin (22h15) e James Blake (01h00) são os cabeças de cartaz do segundo dia do NOS Primavera Sound.
No sábado, dia 8, o palco NOS do festival abre com Hop Along (17h45) e Jorge Ben Jor (19h50). Às 22h10, é a vez de Rosalía animar o Parque da Cidade do Porto. O final estará a cargo de Erykah Badu (00h30).
Comentários