Três violinistas, um violoncelista e um contrabaixista tocaram para algumas dezenas de pessoas durante meia hora numa das principais estações de metro da segunda maior cidade da Ucrânia, perto da fronteira com a Rússia.

No subsolo, protegidos de foguetes e mísseis de longo alcance, os jovens músicos, com idades entre 20 e 35 anos, tocaram sucessivamente o Hino Nacional, um excerto da "Suíte nº 3" de Johann Sebastian Bach, "Humoresques", de Antonin Dvorak, e várias melodias do folclore ucraniano.

Os músicos também interpretaram uma melodia do compositor Myroslav Skoryk frequentemente usada pelo presidente Volodimir Zelensky nos seus vídeos e publicações nas redes sociais.

O concerto aconteceu na escadaria de mármore de uma estação com ar de catedral, sob o olhar encantado de muitos refugiados. Dezenas de famílias vivem no local desde o início da invasão russa, a 24 de fevereiro, fugindo da guerra na superfície e dormindo em carruagens de metro.

"Quando os nossos corações estão cheios, isso ajuda-nos a superar os momentos difíceis", disse Sergui Politutchy, diretor do Kharkiv Music Fest - um dos festivais de música mais prestigiados da Ucrânia -, promotor da iniciativa, realizada no mesmo dia em que o festival deveria ter começado se não houvesse uma guerra.

"Ser útil ao meu povo"

Com escolta armada, assistiram ao recital o governador da região de Kharkiv, Oleg Sinegubov, e o presidente da câmara da cidade, Igor Terejov. "Nestes tempos de guerra, todos trabalhamos em conjunto pela vitória. Este concerto mostra que estamos no caminho certo", afirmou.

Entre os cinco músicos estava o violoncelista profissional Denos Karachevtsev, cujos vídeos em que toca em frente a prédios bombardeados em Kharkiv circularam nas redes sociais nos últimos dias como um momento quase mágico no meio do medo.

"Era apenas uma ideia, ser útil à minha gente, ao meu país, à minha cidade natal. Amo esta cidade, a sua gente. Irei fazer tudo o que eu puder para ajudar", disse o violoncelista à AFP. "As pessoas contaram-me que os meus vídeos lhes trouxeram de volta um pouco de normalidade nas suas vidas. É importante neste momento. Não temos medo, somos fortes, e cada um pode ajudar da sua maneira", disse.

"Todos foram à minha casa para um único ensaio", contou a violinista Tatiana Shuj, radiante após a curta, mas intensa, atuação. "Nos primeiros dias da guerra, um silêncio total tomou conta de mim. Depois, entendi que precisamos continuar vivendo, pelos nossos ideais, nosso país, nosso futuro", acrescentou.

"Tocar os nossos instrumentos é o que sabemos fazer melhor, faremos isso em qualquer circunstância", continuou Tatiana, antes de acrescentar, com um grande sorriso: "Talvez tenha sido o melhor concerto da minha vida."