"Hey. Yo, Madonna chegou a Portugal. Agora é que vai ser, ya. Vai Modonna. Se vem de lá fora, então eu quero; se vem de lá de fora, então é bom. Já está na hora de eu ser sincero, o povo só gosta do que importou. No fundo, ele nunca se importou. No fundo, a gente sempre se encostou". Estes são os versos que abrem o novo disco de Agir, "No Fame". O álbum, que já se encontra disponível nos serviços de streaming e à vendas nas lojas, conta com os singles "Vai Madonna", "Minha flor", "Mando de Água" e "Falas de Mais".

"É um disco pessoal, mas acabam por ser todos pessoais. Acho que é um álbum com uma evolução, tanto a nível pessoas como profissional, de três anos que se passaram. Muita coisa aconteceu na minha vida, muitos concertos, fui tocar a muito sítios que nunca tinha ido, passei a conhecer muita gente que não conhecia, era solteiro e agora sou casado. Muita coisa mudou e é normal que as letras tenham mudado também um bocadinho. É dar mais um bocadinho de mim com a evolução natural dos tempos", começa por explicar Agir na conversa com o SAPO Mag.

O disco anterior do músico, "Leva-me a Sério", foi lançado há três anos e foi um sucesso nacional, com quase todas as canções a tornarem-se singles.  "Tento sempre superar as expectativas e tento sempre fazer melhor - qualquer coisa que faço hoje, tento fazer melhor do que fiz ontem", frisou o cantor. Mas sempre sem pressão: "Não posso pôr as coisas com essa expectativa se vai ser ou não melhor do que o anterior. Vai ser diferente, não vai ser melhor nem pior. Dedico-me sempre a 200% a tudo o que faço. Estou muito satisfeito com o resultado final do disco e acho que quem está à minha volta também está. A partir daqui, tal como aconteceu com o outro, este disco tem de ganhar vida própria. Vão acontecer coisas e outras não".

"Tenho músicas que foram logo feitas quando lancei o último álbum e que já não foram a tempo de entrar. E depois tenho o 'Vai Madonna' que foi feita um mês antes do disco ir para a fábrica. Tenho mesmo tudo, é um álbum que completa muito os últimos três anos após o último disco. Tem coisas de três anos e coisas de um mês", conta Agir em entrevista ao SAPO Mag.

60 segundos com Agir:

E porquê chamar "No Fame" ao disco, sendo Agir um dos artistas mais populares em Portugal? "'No Fame' prende-se com uma coisa que estamos a viver hoje em dia, o de haver muitos miúdos e muita malta que diz que quando for grande quer ser famoso. Está bem, mas a fazer o quê? A ser cantor, a ser músico? 'Famoso'. E é isso que eu quero tentar mudar um bocadinho. Tudo o que é fama e tudo o que é inerente a ela é uma consequência e não um objetivo. As pessoas devem querer, realmente, é ser bons em alguma coisa; esforçar-se para serem bons em alguma coisa. Tudo o resto se acontecer, é um bónus e não pode ser esse o drive, o da fama, para fazer alguma coisa", defende.

O tema "Vai Madonna" é um dos singles do novo disco e chamou a atenção do público. "Foi a última canção do álbum a ser feita e saiu-me e eu achei que era muito fixe para deitar fora. Graças a Deus, ainda fui a tempo de a pôr no disco e passei a ter um álbum com 13 faixas e passou a ser o número da sorte", revela o músico.

Temos de olhar mais para nós e passar a gostar mais de nós

"Não foi com o objetivo de causar impacto e nem é um ataque à Madonna, que deve ter mais que fazer do que ouvir a minha música. A Madonna foi a metáfora que eu arranjei para descrever este sentimento que eu sinto, que é muito nosso e onde me incluo - a malta acha que sou eu a cascar contra alguém, mas eu próprio também me incluo. É também um puxão de orelhas para mim, no sentido em que nós damos muito valor ao que vem de fora; e o que é de fora é que é bom - sem dúvida que há muita coisa que vem de fora é bom, mas a nossa não é menos boa por ser de cá. Temos de olhar mais para nós e passar a gostar mais de nós e sem ser em coisas que já gostamos quase sempre - nas bolas de ouro, no festival (da Eurovisão)", explica Agir.

O disco termina com um conjunto de canções mais felizes, como "Minha Flor". "Gosto de finais felizes, sem dúvidas. Sei lá, foi a maneira como me senti bem a ouvir. Faço esse processo e confesso que não é uma coisa com a qual não perco muito tempo -  faço aquilo uma vez e depois apetece-me fazer uma alteração ou outra. O alinhamento é um bocado instintivo, pela ordem que me soa bem e fico com a primeira ou segunda opção. Tento que a coisa seja minimamente natural", revela.

Agir
Agir

O álbum está nas lojas, nos serviços de streaming e os singles a tocar nas rádios de todo o país. Agora, é a hora de saírem para a estrada, relembra Agir. Um dos concertos está marcado para o dia 24 de junho, no Rock in Rio Lisboa. "Tenho a sorte de ter um álbum novo e, portanto, não vou ter de preparar um concerto novo de propósito para os sítios porque já ia preparar um concerto novo para mostrar as novas músicas. O Rock in Rio Lisboa calhou num ano fixe, em que eu tenho um concerto novo para mostrar e não tive de o fazer de propósito. Obviamente que estou a preparar uma coisa ou outra especial para o Rock in Rio porque não é todos os dias que se vai ao Rock in Rio. Acho que já dou 200%  em tudo o que faço, ali quero dar 300%", confessa.

Na mesma noite, Anitta, Demi Lovato e Bruno Mars sobem ao Palco Mundo do Parque da Bela Vista, em Lisboa. "Vai ser bom poder ficar, especialmente para ver Bruno Mars. Acho que ele tem um concerto fantástico ao vivo. Quero ver e perceber o que é que ele faz. Vai ser bom. Acho que, em termos de dimensão, é mesmo o maior palco que temos cá e já tenho ido fazer umas corridinhas para depois correr naquele palco de uma ponta à outra", graceja.

A boa fase da música portuguesa

Para Agir, um dos artistas com mais seguidores em Portugal, a música nacional está a viver um bom momento. "Gosto de acreditar que contribui, mas não sou eu o principal culpado, de certeza. Acho que é um conjunto de muita boa música que se está a fazer e de artistas novos que estão a surgir e que são bons, com qualidade. As pessoas estão com vontade de ouvir e com as redes sociais ficou tudo mais democrático - as pessoas já podem escolher o que querem ouvir e o que é que não querem. Hoje em dia a procura e o querer ouvir mais tornou-se mais fácil e, portanto, é um conjunto de factores e não se deve, de todo, só a mim", defende.

"Já se ouve muita música em português, não me posso queixar. Nos últimos cinco anos, a música portuguesa e cantada em português tem crescido muito e há muita gente a ouvir. Mas acho que há muita coisa e que não está relacionada com a música e que tem de melhorar", acrescenta.

No novo disco, Agir trabalhou com Ana Moura e Diogo Piçarra em dois temas. Recentemente, o cantor compôs também um tema para Fernando Daniel. E é isso que mais gosta de fazer. "Sempre gostei de fazer músicas para os outros. Confesso que o processo que mais gosto até é juntar-nos todos no estúdio e fazermos músicas, dê aquilo o que der - se dá numa música para mim, se dá uma música dos dois ou se dá numa música para outra pessoa ou se não dá em nada. Esse é mesmo o processo que eu gosto mais, ir para o estúdio compor e criar. Depois, umas ficam para mim e outras ficam para quem as apanhar", conta.