Foi um concerto à porta fechada, uma vez que esteve inserido na apresentação do cartaz do festival SWTMN (que revelaria Kanye West entre as surpresas). Ainda assim, a actuação de Jamie Woon no espaço TMN ao Vivo, no Cais do Sodré, não deixou de ser muito concorrida, ou não fosse o jovem cantor e compositor (e músico e produtor) uma das revelações britânicas do ano.

Com uma postura algo tímida (ou seria apenas cansaço?), percorreu o alinhamento de "Mirrorwriting", o seu álbum de estreia, e mostrou que algumas canções são permeáveis às singularidades de um palco. Tal como tinha contado na entrevista ao SAPO Música, durante a tarde, vários temas ganharam uma pulsão e intensidade nem sempre audível no disco, mesmo que parte do concerto - sobretudo a primeira metade - ainda tenha apostado num R&B polido e facilmente digerível.

Acompanhado por três músicos (na bateria, teclados, guitarra ou baixo), foi passando por ambientes de contornos ora mais jazzy ora mais dubstep, com clara vantagem para os segundos (graças aos quais uma considerável fatia do público deu mais atenção ao palco e à música do que às conversas e bebidas). "Night Air", um dos singles e também dos temas mais fortes de "Mirrorwriting", foi um bom exemplo, surgindo com contornos ainda mais densos e dançáveis do que a versão gravada.
Curiosamente, um dos momentos mais aplaudidos da noite chegou com um tema que não está em "Mirrorwriting" nem sequer é assinado por Jamie Woon. "Would I Lie to You?", hit R&B da dupla Charles & Eddie, popularizado no início dos anos 1990, resultou num dos episódios mais contagiantes, emanando uma pulsão física que se disseminou por grande parte dos espectadores.

Já no encore, a atmosfera não podia ter sido mais contrastante. Nas três últimas canções da actuação, o britânico regressou sozinho e mostrou que, por vezes, um músico consegue substituir uma banda. Criando loops a partir da sua voz, tanto para a construção de ritmos como de melodias, foi desenhando camadas e fechou a noite de forma implosiva. O tom nervoso, minimal e sussurrante destes temas parece ter tido reflexo na própria postura de Woon, mais despenteado do que no arranque do concerto e já quase ensopado em suor - mas mantendo ainda a simpatia inicial e deixando uma bela amostra do que poderá ser o seu concerto no SWTMN, daqui a dois meses.

@Gonçalo Sá