No panorama pop-rock actual, cinco anos podem ser uma eternidade. Ainda assim, foi este o tempo que os Strokes demoraram a editar um novo álbum depois de um "First Impressions of Earth" (2006) que dividiu opiniões.

Não é que os elementos do quinteto tenham ficado parados entretanto. Albert Hammond Jr. e Julian Casablancas editaram discos a solo, Fabrizio Moretti
formou os Little Joy (com a colaboração ocasional de Nick Valensi) e Nikolai Fraiture criou outro projecto paralelo, Nickel Eye.

"Angles" chega então dez anos depois de "Is This It?", um dos álbuns de estreia mais celebrados dentro do rock da última década mas que não teve, ainda, um sucessor capaz de despertar um frenesim comparável.

Nesse contexto, as novas canções marcam, pelo menos, pela diferença. "Angles" traduz, como nenhum dos anteriores, as referências e gostos distintos de cada elemento da banda, até porque foi o primeiro álbum em que todos contribuíram para a composição - nos anteriores, a escrita de canções esteve sobretudo a cargo de Julian Casablancas, que desta vez colaborou com o grupo por e-mail.

As primeiras impressões de "Angles"

Se o primeiro single, "Under Cover of Darkness", sugeria um disco com mais do mesmo, seguindo as pisadas mais reconhecíveis dos Strokes, o alinhamento aponta para outras direcções - ou outros ângulos, por vezes inesperados.

A herança dos Television ou Velvet Underground, presente desde os primeiros dias do grupo, não é esquecida em "Gratisfaction". "Taken For A Fool" também não anda longe do som clássico do quinteto, tendo talvez o refrão mais forte e contagiante.
Já "Two Kinds of Happiness" propõe uma viragem para os anos 80, com um apelo melódico comparável ao dos também regressados Cars, e "Games" volta à mesma década com moldura electrónica, cadência dançável e piscadelas de olho aos New Order. Mais camaleónica, a nervosa "You're So Right" apresenta uns Strokes quase irreconhecíveis, mas perfeitos na imitação dos These New Puritans (versão 2010). A musculada "Metabolism" remete para os tons épicos dos Muse e quem preferir tons menos desviantes não ficará mal servido com "Call Me Back" e "Life is Simple in The Moonlight", os momentos mais calmos do disco.

Sortido por vezes esquizofrénico, "Angles" tanto poderá agradar aos que procuram os Strokes do passado como aos que ansiavam por outras abordagens. Mas essa ambivalência também resulta num alinhamento que expõe uma banda indecisa sobre o rumo a adoptar. Os ângulos já foram devidamente testados, falta agora ajustar o foco - talvez essa transição seja mais conseguida no próximo álbum, que a banda está já a preparar.

@Gonçalo Sá

"Angles" pode ser ouvido na íntegra no MusicBox.

Videoclip de "Under Cover of Darkness":