Aos dois primeiros, membros fundadores da banda, juntaram-se o baixista e baterista, respectivamente, e assim começaram a dar cartas. Assinados pela nova-iorquina Other Music Recordings, assumem que o “plantas”, como resumidamente apelidam o primeiro disco – “As Plantas que Curam” -, lançado no final de setembro de 2013 - é um álbum “de quarto” e que o próximo será, então, o primeiro álbum oficial enquanto banda.

Um pouco nervosos e visivelmente pouco confortáveis com isto das entrevistas, estes rapazes, que, a cada dia que passa, conquistam novos públicos internacionais, mostram-se bem mais à vontade no palco, durante o soundcheck, do que sentados connosco no bar do Musicbox. As respostas são curtas, o tempo também. Valem-nos a simplicidade, humildade, simpatia e gosto pelo que fazem. Fomos conhecê-los e aqui os apresentamos, para quem não conhece e para quem quer ficar a conhecer melhor. De Goiás para o Mundo, eis os Boogarins.

Palco Principal - Já alguma vez tinham visitado Portugal? O que estão a achar?

Fernando - É maravilhoso. Não passámos muito tempo em Portugal, chegámos ontem e tocámos logo, mas o show [no Festival Milhões de Festa, em Barcelos] foi incrível.

PP - Só ontem pararam em Portugal, onde falamos o português que vocês cantam, mas a vossa digressão europeia já havia começado em Paris. Lá, oentendimento das músicas é diferente, devido à barreira da língua, ou ela não existe? Qual o feedback que têm sentido do público?

Benke - Nós começámos a tournée em março, nos Estados Unidos, e viemos para a Europa em abril. Paris acolheu o início desta segunda parte da tournée e é a primeira vez que estamos tocando em Portugal, um país onde as pessoas realmente nos entendem e onde podemos comunicar, não só na música, mas também interagindo. É como tocar em casa, é natural. Não que nos outros lugares não seja, mas aqui é mais tranquilo, mais solto.

PP - Assinaram por uma editora internacional, a Other Music Recordings . Posto isto, os vossos planos passam por continuar a cantar em português?

Benke - Não planeamos, mas também não descartamos essa possibilidade. Temos uma música em inglês.

Fernando: Mas nunca a tocámos juntos...

Benke - Foi composta até antes da música em português, então não a tocamos.

Fernando - Mas, se algum dia resolvermos fazer música em inglês, não será por causa do contrato.

PP - Desde o início dos Boogarins ao lançamento do “As Plantas que curam” vai quanto tempo? Contem-nos um pouco da vossa história...

Benke - Lançámos o EP, virtualmente, no ano passado. Eu e o Fernando gravámos essas músicas em 2012, sem pretensão de sermos uma banda. Em janeiro de 2013, começámos a ensaiar já os quatro e lançámos o EP virtualmente, colocando na net, no Facebook. Em abril fizemos o nosso primeiro show e em maio já estávamos com essa coisa da 'gravadora' acertada e o som já havia chegado até eles, ainda que só tenha sido anunciado em agosto.

PP - Como foi chegar até diferentes públicos e pessoas espalhadas pelo mundo? No fundo, sentiram na pele o poder da internet...

Fernando - Sim...

Benke - Ficámos muito felizes quando o primeiro blog norte-americano publicou o som e fez a review. Tinha-o mandado para uns quantos blogs e para pessoas próximas. Nós estávamos a ensaiar quando vimos que ele tinha ouvido o EP. Ficámos muito felizes porque é uma pessoa que está fora do nosso círculo e a quem o som chegou.

PP - Rótulos à parte, vocês são mais 'Mutantes' ou 'Tame Impala'? Dentro do psicadelismo, se, por um lado, com uns têm a língua em comum, com outros têm o espaço temporal...

Benke - Acho que nenhum dos dois. Os Mutantes têm aquela coisa de serem muito maiores do que a canção - e nós não temos nenhum manifesto.

Fernando - Por isso, talvez fossem os Tame Impala, por serem uma banda nova que faz som atualmente.

Benke - O nosso caminho é mais parecido com o dos Tame Impala do que com o dos Mutantes. Os Mutantes têm toda uma outra coisa que envolve a música, o tropicalismo, um manifesto. E nós não podemos, nem queremos, levantar bandeiras de movimento algum. Não quisemos quando começamos a fazer música nem queremos agora.

PP - Na vossa opinião, o que fez despoletar esta nova vaga de psicadelismo, com bandas como os Pond, os Tame Impala, os Temples, os The Entrance Band, vocês próprios ou até os The Black Angels a darem cada vez mais cartas?

Benke - Não acredito que seja algo intencional. De facto, nem conhecíamos os Tame Impala quando gravámos algumas das primeiras músicas. Acho que tem a ver com o que se ouve e serve de inspiração no momento de compor as músicas. Nós, por exemplo, ouvimos Pink Floyd durante o 'Plantas'. Mas não acredito que seja algo inteiramente intencional, possivelmente foi algo, até, que nunca desapareceu.

PP - Mas por alguma razão está a ter uma maior expressão agora...

Benke - Sim, isso.

PP - Em que medida é que as vossas origens, em Goiânia, no estado de Goiás, no centro do Brasil, influencia o que são e o que fazem?

Benke - Quando resolvemos ensaiar essas músicas que já tínhamos gravado, de alguma forma sabíamos que íamos ter lugar para tocar e uma 'galera' para ir assistir...

Fernando - E imagina o que é estar hoje do outro lado do mundo..

Benke - Eu acho que a grande influencia de Goiânia é essa, de se conseguir colocar no palco fazendo o que é seu.

Fernando - Sim, a cena é confortável, impulsionam-te a ter uma banda. Há espaço para isso.

PP - O vosso nome remete para uma planta [Bogarim – flor de jasmim, que se diz ter o odor do amor puro] e o vosso álbum gira em torno disso, também. Porquê esta opção?

Fernando - O Benke veio com todo um conjunto de nomes de plantas e nós escolhemos Bogarim, que é uma flor, e foi mais porque achámos engraçado, soava bem.

Benke - E divertido também. Estávamos num ensaio e vimos isso escrito num rótulo de bebida - “As plantas que curam” - e pensámos que dava um bom nome de álbum também.

PP - E a música cura?

Fernando - (risos)

Benke - Sim, também. A questão do amor puro... Nós olhámos de forma algo aleatória para os nomes e depois, quando fomos ver o significado, de facto dava com a música. Mas os nomes foram algo que veio depois, quando já estávamos a ensaiar as músicas. Ensaiámos dois ou três meses e só depois nos preocupámos com arranjar um nome para o EP e para o projeto, na altura de lançar as músicas. Estávamos a criar sem pensar muito e pensámos: 'Nossa, aquele era um nome legal'. E depois pensámos a capa do álbum também.

PP - Em Portugal, o nosso primeiro contacto convosco foi a música “Lucifernandes”. Quem é esta “menina moderna que fugiu para o Sul”?

Benke - (risos) Essa pergunta já nos calhou, o difícil é responder...

Fernando -Um amigo meu fez esse trocadilho entre Lúcifer e Lucifernandes e eu achei engraçada toda a ideia de mulher demónio, Lúcifer, que cai do céu.

Benke - Pegando nessa figura do anjo, que cai do céu enquanto mulher, também faz sentido, na bíblia e na literatura, que, quando se fala da sensualidade de Lúcifer, se leve para a figura feminina. Mas é um personagem fictício.

Fernando - Não existe.

Hans - Quando ficarmos famosos, vamos dizer que fizemos pacto com o diabo. (risos)

PP - Como são os Boogarins ao vivo? Têm apresentado coisas novas nos vossos concertos?

Fernando - O show é mais forte e barulhento do que o disco. Ainda que as músicas sejam as mesmas, são outras, agora com a banda...

Benke - E o disco não era...

Fernando - É diferente, muito mais enérgico. Tocamos varias músicas novas que já viemos a fazer como banda, durante a tournée, já desde os primeiros shows. Nós tínhamos o disco gravado, mas, quando fomos tocar juntos, tínhamos aquela coisa de não querer fazer igual.

PP - Não ficar presos ao disco...

Fernando - Sim, exato. Então podem esperar coisas novas.

PP - O que podemos esperar dos Boogarins no futuro?

Benke - Antes de começar esta tournée, em Paris, estivemos a trabalhar no novo disco durante um mês, em Gijón, Espanha, do jeito que tocamos, gravando com banda. E acho que este é mesmo o primeiro disco da banda. O 'plantas' foi um disco que saiu do quarto...

Fernando -Não era um disco sequer...

Benke - Sim, eram só músicas gravadas. Decidimos foi fechar um conceito de um LP ali, com início, meio e fim, mas foi uma coisa que saiu do quarto, que ao vivo soa bem diferente, com baterista e baixista a tocarem.

PP - Sim, até porque o EP termina com “Fim” e depois ainda juntaram outras quatro músicas...

Fernando - Sim, quando terminámos o EP, já tínhamos a “Doce” gravada...

Benke - E a “Paul” também. E, quando se deu o contacto da Other Music, eles acharam interessante que lançássemos um LP também, com outras músicas que tínhamos gravadas. Colocámos “Fim” no meio do disco e achámos 'legal' fazê-lo. E não quisemos mudar a ordem daquelas seis músicas porque achávamos que funcionava bem.

PP - E o novo álbum, já nos conseguem dizer como vai soar?

Benke - Estivemos a gravar, mas ainda não sabemos como o disco vai soar. Estamos em tournée até setembro aqui, depois entramos em tournée no Brasil, não vamos parar entretanto e não dá para saber para quando prometer, mas está encaminhado. Mas é como se fosse o primeiro disco da banda de verdade, com músicas dos quatro: bateria do Hans, baixo do Raphael... Ainda que as músicas sejam maioritariamente compostas pelo “Dinho”, os arranjos são da banda.

Rita & Nuno Bernardo