Por debaixo de um manto verde, a brasileira subiu ao palco, onde se juntou às suas duas guitarras e ao alaúde. Uma vez sentada,deixou caíromanto, que, amarelo no verso,passou a servir de cenário.
O concerto, esse, decorreu todo no mesmo lugar, sem movimentos pelo palco e com projecções atrás, nas paredes da Casa. Durante cerca de uma hora e meia, Adriana esteve sentada num banco, ladeada pelos seus instrumentos, de perna cruzada, a dedilhar as guitarras. A imagem era a de uma trovadora.
Não é ao acaso que este ciclo de concertos se denomina Trobar Nova. Segundo a própria artista, trata-se da “reconciliação com a música" e do "dar conta do privilégio de ser trovadora e de andar pelo mundo a fazer música”.
Para isso, toda aquela imagem e a presença do alaúde, que não foi utilizado a não ser como cenário. Olhando de relance para aquela figura no palco, vinha-nos à memória a Maria da Música no Coração, protagonizada e eternizada por Julie Andrews.
E foi nesse estilo trovadoresco que Adriana viajou pelo seu país, cantando aos quatro ventos Vinicius de Moraes (Eu sei que vou te amar), a quem atribui a “responsabilidade” por, actualmente, os Estados Unidos terem um presidente negro; Lupcínio Rodrigues, o boémio artista brasileiro, “dono” de Nunca (ao som da qual Adriana Calcanhotto acendeu um cigarro,não fosse"a única coisa proibida e perigosa para fazer no palco” e para que a mise en scène condissesse com a faceta “libertina” de Lupcínio); Moreno Veloso (Rio Longe) e Caetano Veloso (A cor Amarela).
Mas nem só de Brasil se fez o concerto, onde Madonna (com Music) ou Nat King Cole e a sua Nature Boy, foram relembrados e reinterpretados.
Estas músicas são aquelas que Adriana escolheu porque, segundo a própria, “gostaria de ter feito e não fiz”. No entanto, estes temas foram sendo alternados com outros: os que gostaria de ter feito e fez. São os casos de Esquadros (em que mais uma vez ficou explícita a função de trovadora, quando a artista canta que “anda pelo mundo divertindo gente”), Metade, Parangolé Pamplona, Canção de Novela (que tal como o nome indica foi escrita de encomenda para uma novela), entre muitas outras.
Após uma ensaiada primeira despedida, chegou a altura dos encores e, se o público já estava bem animado, aqui foi só a confirmação: Fico Assim sem Você do álbum "Adriana Partimpim" foi entoado por todos a uma só voz e, depois, a plateia pedia Vambora ao que Calcanhotto respondeu: «Vambora»! E foi mesmo. Tempo só para a música da despedida em que, pela primeira vez, ao som unicamente acústico que se ouvia até ao momento se juntou uma “batucada” que fez com que Adriana, de novo envolta no manto, saísse a dançar do palco.
A sátira, crítica, o humor e a simpatia estiveram sempre presentes durante o concerto, onde, apesar da falta de movimento, a orgânica e comunicação estabelecida com o público criaram uma grande dinâmica e empatia, que se manteve depois do concerto, quando Adriana se deslocou até às janelas da Casa da Música para se despedir dos fãs.
«Eu não sou eu nem sou o outro», foi a Adriana Calcanhotto, ao vivo, no Porto.
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