A noite estava reservada para os
Skalibans
the Cynicals de Coimbra. Nos corredores e camarins as bandas iam-se cruzando e criou-se, logo ali, uma cumplicidade inegável. Notava-se sinceridade nas palavras de "boa sorte"? de uns para os outros. E no fundo, quando o festival terminar são estas ligações, entrecruzadas por corredores, que ficam na memória. É este tipo de atitude que faz de todas as bandas, já à partida, vencedoras.
Os de Almada e
Skalibans foram os primeiros. Uma considerável legião de fans esperava por eles. A euforia era visível e os trajes reveladores. Aquele é o público do Ska/Reggae com laivos de Punk californiano, vestidos com calças largas, ténis, "rastas"? e malas feitas de pano. A banda dos arredores de Almada e Corroios, revelou boa disposição e muita disponibilidade para uma conversa animada. Quase sempre de sorriso nos lábios, estavam em pulgas para entrar em palco com aquela postura despojada para quem a música é diversão. Numa banda onde a presença masculina é soberana, a Clara, o único toque de charme feminino no reino dos
Skalibans, usou o Trompete a favor de uma sonoridade que só por si cheira a Verão. Pode dizer-se que os
Skalibans deixaram o cunho pessoal na história deste festival porque, se por um lado foram a banda que conseguiu levar mais público ao Ginásio Clube de Corroios, que dançava desordeiramente em círculos, por outro lado, em pleno Inverno e numa noite gelado, trouxeram-nos o Verão mais cedo.
Os
the Cynicals de Coimbra estavam agendados para actuar logo depois. E assim foi. Ninguém poderia imaginar o que nos esperava. Os
the Cynicals trazem uma série de troféus arrecadados em festivais anteriores, o que é notável, para um projecto que tem apenas 8 meses. A verdade é que em conversas paralelas com outros músicos, são reconhecidas a João Macías, a voz da banda, um certo "star quality"?. Os Cynicals são divertidos, praticam um rock que por vezes leva-nos um pouco ao ambiente de cabaret, qual David Lee Roth a brincar sem pudor com a sua sexualidade. Macías, que há 10 anos atrás já tinha participado no Festival de Música Moderna de Corroios com os XL, diz objectivamente que não tem medo do seu corpo. E isso transpira em palco, entre um tom irónico e mordaz, os Cynicals colocam o dedo na ferida dos quotidianos aos quais ninguém pode fugir, nem sequer os "cínicos"?, por mais resistentes que sejam.
A legião de fans dos
Skalibans deram-lhe o título do projecto mais votado dos Festival deste ano. Recolheram 187 votos do público, ao passo que "Coimbra" obteve 79 escolhas.
A banda convidada,
Easyway são uma das grandes revelações do ano passado com o CD "Can you keep a secret"? e o muito orelhudo single "Hush Baby"?. Projecto liderado por Tiago, que embora fisicamente não seja o protótipo da "Rock Star"?, destaca-se pela sua condição de entertainer. Toca e canta com segurança e garra, deixando bem claro que o bom rock se faz de música e atitude e não de carinhas bonitas.
Não quero deixar de destacar que no fim das actuações duas bandas a concurso,
the Cynicals e
Skalibans ficaram pelos corredores e camarins para uma honesta troca de galhardetes. Especialmente os
Skalibans que ficaram à espera que os Cynicals descessem do palco para lhes darem os parabéns pela brilhante actuação. A voz da banda de Almada, Sérgio, dizia "eu nem sei o que dizer, estou passado!"?, tal era a surpresa de assistirem a algo tão profissional. Aliás todas as bandas que passaram pelo palco do Festival este ano, revelaram sem excepção, uma atitude altamente profissional. Chegamos à conclusão de que a expressão de "bandas de garagem"? assume um novo sentido. A garagem pode ser pequena, pode cheirar a mofo e no Verão nem sequer ter ventoinha para refrescar o ar, o que não quer dizer que de lá só possa surgir um produto medíocre. O Festival de Corroios, como tantos outros, tem sido a prova de que a questão geográfica...banda de garagem, de vão de escada ou de sotão é meramente um pormenor sem a mínima importância.
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