"Shanghai Dream", uma narrativa ambientada na segunda Guerra Mundial, entre a Alemanha e a China, é a quinta colaboração do autor português Jorge Miguel com a editora francesa Les Humanoides Associés, que lançou originalmente a obra em dois volumes, em 2018 e 2019.

A história é protagonizada por Bernhard e Illo, um casal judeu alemão que ambiciona prosseguir carreira no cinema, ele como realizador e ela como argumentista, e cujo sonho é desfeito pelo regime nazi, com a separação forçada entre ambos, num processo de fuga para o Oriente.

À agência Lusa, Jorge Miguel conta que já tinha colaborado com o argumentista Philippe Thirault em 2015, em "Arène des Balkans", no segundo projeto editorial que assinou para a Les Humanoides Associés.

A ligação com esta editora iniciou-se em 2014 com uma obra de humor, recheada de zombies, assinada por Jerry Frissen e intitulada "Z comme zombies", e inclui também a edição das bandas desenhadas "Les Décastés d'Orion" e "Seul survivant", tudo isto num trabalho à distância, a partir de Setúbal, onde vive.

"Há uns anos contactaram-me diretamente e propuseram-me umas coisas. Escolhi uma história sobre zombies. E a partir daí nunca mais parei de trabalhar para eles. A seguir uma coisa, faço outra completamente diferente. Não gosto de estar sempre a fazer o mesmo", disse Jorge Miguel.

Sobre "Shanghai Dream", agradou-lhe o facto de poder desenhar uma época que de interesse, do ponto de vista histórico e visual, sobre a Segunda Guerra Mundial, sobre o 'glamour' do cinema dos anos 1930-1950.

"Shanghai Dream", que foi já editado no mercado norte-americano, francófono, em Espanha e nos Países Baixos, serve de reentrada do desenhador Jorge Miguel no panorama da banda desenhada portuguesa.

Durante anos, Jorge Miguel (Amadora, 1963) viveu da pintura, trabalhando como aguarelista para galerias de Lisboa e do Porto, e foi ilustrador para manuais escolares, para editoras como Plátano, Didáctica, Porto Editora e Leya.

Pela Plátano, chegou a editar duas bandas desenhadas em nome próprio, que passaram despercebidas, como admitiu: "Camões - de vós não conhecido nem sonhado" (2008) e "O fado ilustrado" (2011).

Atualmente dedica-se apenas à banda desenhada e trabalha para o mercado francês, estando a terminar um projeto de dois volumes de ficção científica, também para a Les Humanoides Associés, que deverá sair no final da primavera de 2021.

Jorge Miguel é dos que suja as mãos a desenhar, usa os meios tradicionais - lápis, aparo, pincel, papel -, mas não descarta o digital e segue uma rotina de trabalho diário, que lhe ocupa "muitas horas do dia".

"Quando me perguntavam em pequeno o que é que eu queria fazer, queria fazer precisamente o que estou a fazer agora", disse.