Este ciclo junta cinco textos, 14 atores e o Prémio Nova Dramaturgia de Autoria Feminina em vários locais de Lisboa, criado este ano e atribuído a Lara Mesquita, cuja leitura do texto encerra a edição deste ano do “Esta noite grita-se”, em julho.

"Decidimos dedicar a temporada de 2021 à criação artística no feminino. Sabemos que a luta pela igualdade de género é uma batalha contínua que está ainda longe de terminar, travando-se em muitas frentes, das quais a arte não é exceção", afirmam Miguel Maia e Filipe Abreu, responsáveis pelo projeto.

Assim, nos dias 21, 22 e 23 de maio, os atores Gonçalo Carvalho, José Redondo e José Matos de Oliveira vão dar voz a “Os Aliens”, de Annie Baque, uma obra sobre dois jovens indigentes, que ocupam as traseiras de um café e conversam sobre a vida, entre os sonhos perdidos, as namoradas abandonadas e as drogas que tomam.

Este texto foi escrito em 2010 pela dramaturga norte-americana que, em 2014, recebeu o Prémio Pulitzer por “The Flick”.

As leituras vão ter lugar no Centro Cultural Malaposta, na Livraria Ler Devagar e no Instituto de Formação, Investigação e Criação Teatral (IFICT).

Segue-se, nos dias 18, 19 e 20 de junho, “Justamente”, uma obra de Ali Smith, sobre justiça e linguagem, feita de “humor e absurdo com um fundo inquietante”, que contará com a interpretação de Bruno Huca e Teresa Faria, a decorrer na Biblioteca do Palácio Galveias, com interpretação em Linguagem Gestual Portuguesa, na Fábrica Braço de Prata e na Biblioteca de Marvila.

Ali Smith é uma escritora escocesa, autora de romances, contos, peças de teatro e de crítica literária, que recebeu alguns dos mais importantes prémios literários do Reino Unido e foi finalista do Prémio Man Booker.

Depois de ter sido transmitida apenas online, a leitura do texto “Dias inteiros nas árvores”, de Marguerite Duras, volta a ser interpretada, desta vez ao vivo, no Centro Cultural Malaposta, no dia 1 de julho, pelos atores Carla Maciel, Guilherme Barroso, Marcelo Urgeghe, Paula Só e Miguel Maia.

A encerrar a temporada, nos dias 16, 17 e 18 de julho, vai realizar-se a leitura de “Sempre que acordo”, a obra premiada de Lara Mesquita, na Biblioteca do Palácio Galveias, na Fábrica Braço de Prata e na Biblioteca de Marvila.

“‘Sempre que acordo’ é um texto dramático pensado para existir num formato de 'conferência-performance', onde duas mulheres negras inventariam o trauma do racismo português. Perante a consciencialização dessa ‘condição especial’ de existir e depois da investigação dos seus efeitos na construção da identidade dessas mulheres, tem-se uma partilha íntima de biografias, com recurso a provocações intelectuais direcionadas ao leitor”, explica a autora, esclarecendo que o texto foi escrito “depois do estudo da memória destas duas mulheres e serve como meio de denúncia”.

O júri do Prémio Nova Dramaturgia de Autoria Feminina – composto por Cláudia Lucas Chéu, Miguel Castro Caldas e Rui Pina Coelho - justifica a escolha de “Sempre de acordo” com o facto de ser um texto que “demonstra ter uma ideia de teatro, destacando-se a autora das demais candidatas”.

“A autora de ‘Sempre que Acordo’ é audaz na forma como aborda ‘o elefante na sala’ da falta de representatividade de negros na produção profissional no teatro português”, considerou o júri, acrescentando que esta obra “dialoga transversalmente com a ausência de um discurso racializado no teatro português. Fá-lo de forma frontal, do ponto de vista de uma primeira pessoa, dando conta do racismo estrutural, evidente na experiência da autora como artista”.

Além de um prémio monetário, este texto de Lara Mesquita vai ser publicado, numa parceria com a editora Douda Correria.

Esta foi a primeira edição deste concurso literário a nível nacional dirigida a pessoas que se identificam com o género feminino, sejam cisgénero ou transgénero, com ou sem obra prévia editada, que premeia um texto inédito de teatro.

“Esta noite grita-se” reúne ainda um conjunto de atividades paralelas, como a programação de uma leitura por uma estrutura convidada, que neste ano ficou a cargo da companhia de teatro 33 Ânimos, que recaiu sobre a obra “Outros sons”, da escritora brasileira Lígia Sousa, nos dias 5 e 6 de junho, no Teatro da Trindade.

Vão também realizar-se duas oficinas de leitura interpretada para jovens e vai ser lançado um podcast com leitura de peças de teatro.

“Esta noite grita-se” é uma iniciativa da companhia Cepa Torta, fundada em 1999 e com direção artística de Miguel Maia.