A HISTÓRIA: Nas montanhas de Monterrey, no México, um pequeno gangue de rua chamado "Los Terkos" passa os dias a dançar ao ritmo da cúmbia. Após um desentendimento com o cartel local, Ulises Samperio, o seu líder, vê-se forçado a exilar-se num bairro de Nova Iorque, onde depressa fica saudoso do seu país.

"Ya No Estoy Aqui": disponível na Netflix.


Crítica: Hugo Gomes

O candidato do México ao próximo Óscar de Filme Internacional é apenas mais um a confirmar a tendência (para não falarmos de vaga) de um cinema latino-americano (sobretudo mexicano) para retratar manifestações de contra-cultura ou que, à sua maneira, resiste a uma sociedade que agrava as desigualdades sociais e premeia a violência.

Esta (outra) forma de luta encontra-se neste filme de Fernando Frias representada por uma designação – Terkos – que se vai materializando para diferentes interpretações, seja a do nome de um bando de jovens delinquentes para o seu atípico gangue ou o próprio mojo, em constante anarquia com o que é socialmente aceite ou automatizado.

"Ya No Estoy Aqui" segue o seu protagonista pseudo-moicano Ulisses (Juan Daniel Garcia Treviño) na sua própria odisseia por uns EUA que está a receber os migrantes de forma pouco acolhedora. O motivo para passar a fronteira está relacionado com a violência do seu meio, impiedoso e não-clemente, que o obriga a se separar da sua família e procurar novas vivências num país de "gringos".

Frias filma uma Nova Iorque distante, desconectada, onde o inglês é, por sua vez, uma língua estrangeira. Aqui, nenhum “sonho americano” se encontra ao alcance de Ulisses, apenas a subsistência e a subserviência com que o jovem sempre se revoltou no seu país de origem.

Como acontece com grande parte dos filmes envolvidos numa contra-cultura, há uma tendência de priorizar a sua estética e exaltar a sua ideologia, mesmo que sejam incoerentes. É o que volta a acontecer com “Ya No Estoy Aqui”, um olhar exótico (a certa altura com alusões ao tropicalismo xamânico) aos problemas dos costumes a que muito cinema mexicano está a ir repescar.

Nota-se uma determinação em Frias ao narrar esta história, mas para a sua infelicidade, existe nesta relação intérprete/espectador uma distância emocional, que parte do próprio desinteresse de Ulisses em se ligar com o mundo que o rodeia, sem ser com a sua música de nicho. Entendemos o conceito, mas … e como há sempre o "mas", o espectador sente-se na obrigação de observá-lo como um pássaro raro, o que tornar a sua jornada nada mais que um “entretenimento”.

"Ya No Estoy Aqui" é uma obra esteticamente competente, desenvolvida na própria credibilidade e filmada com não-atores, que se expõe não no seu próprio olhar, mas na pluralidade de quem o vai ver. Mas certamente que existem filmes mais desafiantes para a corrida aos Óscares.

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