Concebido por John Byrne e Chris Claremont em 1976, a chamada “Saga da Fénix Negra” é um dos capítulos incontornáveis da BD "X-Men", reciclado inúmeras vezes nos "comics" e no formato audiovisual.

De facto, este novo filme do "franchise" cada vez mais mal amparado do estúdio Fox demarca-se como a segunda volta neste mesmo enredo: a versão original ganhou terreno há 13 anos com “X-Men: Confronto Final” (2006), de Brett Ratner, com Famke Janssen nas lides desta mutante descoordenada que acabava por adquirir o seu requisitado, mas nunca satisfatório, fim trágico.

Agora, com um reinício temporal acentuado na aventura de 2014 (“Dias de um Futuro Esquecido”) e ignoradas as coerências narrativas, seguimos de reboque para um final apressado da saga "X-Men", assim ordena a transladação de espólio e de direitos: para quem não sabe, grande parte do património Fox instalou-se agora na alçada da Disney.

Não é fácil de atenuar esse sentimento de desfecho abrupto de quem vê uma espécie em vias de extinção que, sem braços fortes (apesar de ser tabu nos dias "Time´s Up" de hoje atribuir virtude à contribuição de Bryan Singer), braceja para não se afogar. A resistência é em vão: “Fénix Negra” não reage bem aos novos tempos e na pressão em atribuir uma dignidade à sua derrota, com isto afirma-se que por entre previsibilidades e risibilidades.

Este é um filme que oscila entre o automatismo industrial e as réstias de pretensiosismo herdado. Contudo, o desastre megalómano que fora “X-Men Apocalipse” (2016) tornam este resultado menos deplorável, o que não é muito face a uma trajetória que se posiciona para tentar erguer a sua estrela – Sophie Turner ("A Guerra dos Tronos") – como a nova face desta tragédia "a la Stan Lee". E a jovem atriz até não é uma aposta perdida, visto que revela mais emotividade que a anterior Famke Janssen.

O resto resume-se a um grupo de mutantes sem carisma nem fibra para aguentar a pedalada (com exceção de Michael Fassbender), uma narrativa apressada em focar-se nos lugares-comuns deste enredo consumado e um (falso) tom épico que só parece encontrar par com a banda-sonora onipresente de Hans Zimmer.

A juntar a isto tudo, o que para muitos será o menos importante deste tipo de produções, é o anonimato trazido por uma estreia na realização do produtor e argumentista Simon Kinberg.

Depois deste… não diremos um acidente percurso, mas um filme acidentado e sem motivação de entregar um final concretizado, o que temos é um "suicídio assistido".

Chegados aqui, os fãs tem razões para sorrir porque a Disney fica com a "chaves" da saga e daqui a sensivelmente cinco anos veremos os mutantes a chegar ao Universo Cinematográfico Marvel.

Mesmo que essa reintegração, ironicamente, não vá ser uma mais-valia, pois para uma série que alude um certo ativismo político-social, a chegada da Disney significa uma provável perda da sua artificial emancipação...

"X-Men: A Fénix Negra": nos cinemas a 6 de junho.

Crítica: Hugo Gomes

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