Comédia subversiva, "Vice" é uma visão sombria pelos bastidores da ascensão de Dick Cheney. A sua sede pelo poder, egoísmo e manipulação furtiva, aliada à inteligência e ambição da esposa Lynne, guiaram-no a uma posição de influência que iria alterar para sempre o cenário político americano.

Com recurso a um peculiar narrador (Jesse Plemons), que surge em vários locais, representando várias funções sociais, figurando como metáfora para os espectadores, o realizador Adam McKay coloca-nos no lugar dos afetados pela desinformação, sonegação e as acções maquiavélicas do político.

Com algum atropelo, avanços e recuos, a primeira parte do filme é a evolução de Cheney pelos meandros políticos, enquanto estuda o seu mentor Donald Rumsfeld e lida com um conflito familiar, que o impede de atingir mais cedo os seus objectivos... mas lhe dá paz de espírito.

Entre saltos temporais, humor habilmente injetado em tópicos sérios, imagens documentais, quebra da quarta parede, solilóquios shakesperianos... e créditos finais a deslizarem a meio do filme, Mckay interrompe a ideia de uma vida feliz com o trinar de um telefone.

Do outro lado está George W. Bush, um fantoche oportuno que Cheney irá usar como escudo enquanto interpreta a Lei a seu bel-prazer.

Já a segunda parte desta sátira é o palco para mais uma das famosas transfigurações físicas de Christian Bale. Mais peso, próteses faciais e maquilhagem são acessórios na excelência pois a sua autoridade suave, o controlo brando, quase invisível mas pungente, e o poder das pausas ameaçadoras, são um repasto na mente do actor galês que diz ter representado um Diabo faminto através do implacável Dick Cheney.

Que melhor representação para toda esta sofreguidão do que uma cena de jantar, onde Cheney, Rumsfeld e os seus advogados, são aconselhados por um eloquente servente (excelente Alfred Molina) aos especiais do dia, enquanto do menú vai lendo e revelando um festim de tortura.

Com oito nomeações aos Óscares, "Vice" entretém com a sua abordagem niilista e objetiva de Dick Cheney, e faz-nos ponderar no que seria o mundo de hoje se, num domingo de manhã, o telefone não tivesse tocado na sua casa...

"Vice": nos cinemas a 14 de fevereiro.

Crítica: Daniel Antero

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