Em “Uma Família no Ringue”, Stephen Merchant, co-autor da série de sucesso "The Office", juntou a sua língua afiada à atitude musculada de Dwayne Johnson, para produzirem um filme biográfico sobre a conhecida lutadora de wrestling Paige.

O título original do filme ("Fighting with my Family") revela o mote, pois a dinâmica doce, divertida e desafiadora da família Knight tem lugar no no ringue, onde encontraram o seu escape, sustento e salvação.

Estamos em Norwich, Inglaterra, onde o pai Ricky (Nick Frost) e a mãe Julia (Lena Headey, Cersei de "A Guerra dos Tronos") vivem a luta livre com uma paixão desmesurada. Enquanto entretêm a classe trabalhadora da sua cidade, suportando as angústias e criando comunidade, dão rumo e moral aos filhos de todos, acreditando cegamente no sucesso internacional dos seus: Zak Zodiak (intenso Jack Lowden, que vai da ilusão ao desespero em segundos) e Saraya-Jade Bevis (Florence Pugh, uma das melhores actrizes da sua geração).

Enquanto respiram para o gongo do próximo assalto, lutas de bares, gravidezes indesejadas ou penas de prisão atravessam-se no caminho... até ao dia em que tudo se abafa com os treinos de captação para a Wrestlemania.

Aí, “Uma Família no Ringue” ganha novo rumo e passamos a acompanhar a ascensão de Paige. A dicotomia das lutas de bairro com o "glamour" americano, as incertezas pessoais e as intrigas no percurso para o estrelato, o esforço, a superação e a descoberta dos reais valores e convicções: Paige combate a família no ringue e fora dele, enfrentando os desejos e pressões de todos aqueles que a rodeiam, definindo de uma vez por todas no que realmente acredita.

Infelizmente, temos neste arco narrativo a maior falha de Merchant, pois o charme e a vulnerabilidade de Florence Pugh não têm fundamentos na psicologia de Paige e no que a impulsiona a ser lutadora de wrestling. Ao contrário do irmão Zak, que desde os três anos reconhece os lutadores profissionais só pelas botas.

Com o "cameo" de "The Rock" e a presença de Vince Vaughn como treinador (numa espécie de veículo verborreico da comédia de Stephen Merchant), o filme entra na última parte a apontar a todos os cânones de película "hollywoodesca" de superação... encadeando-nos até ao combate final.

Pena a falta de "punch" no fim, pois “Uma Família no Ringue” é honesto e humilde, nunca esquecendo a ligeireza da vida através da acidez e sarcasmo do humor britânico de Merchant, bem condimentado com a ação "slapstick" de Dwayne Johnson.

"Uma Família no Ringue": nos cinemas a 16 de maio.

Crítica: Daniel Antero

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