Donald Trump paira como abutre na era das "fake news" e Steven Spielberg avançou com urgência para um "thriller" político dos anos 70, que ecoa a força da liberdade de imprensa e do civismo. Em nove meses produziu e realizou "The Post" para vincar e afrontar a mão que atrofia o jornalismo.

O fime aborda o caso dos “Papéis do Pentágono” e a posição editorial de Katharine Graham e Ben Bradlee, do jornal Washington Post, em relação à exposição pública de um dos maiores segredos governamentais da Guerra do Vietname.

Papéis pelo ar, telefonemas em segredo, moços de entrega a correr que nem uns desalmados, gráficas a fumegar, fontes secretas e jogos de bastidores, "The Post" tem tudo o que os "thrillers" jornalísticos devem ter mas adiciona uma trivialidade que se torna acontecimento na Sétima Arte: Meryl Streep e Tom Hanks, em cena, juntos.

Spielberg, consciente de ter um momento para a história nas mãos, já que Streep e Hanks nunca antes tinham contracenado, liberta os dois. A sua primeira cena é logo arrebatadora: plano-sequência a dialogarem num restaurante, a saltar de emoção e emoção, com o frenesim e o fumo típico da ambiência dos anos 70 a tentar incomodar-nos... mas não há como desligar dos dois.

Meryl Streep é Katharine Graham, a "publisher", subestimada pela administração masculina, que terá de decidir sobre a publicação dos documentos, colocando em risco a família e o seu legado. Meryl, correndo o risco de ser mais uma vez... Streep, consegue de novo surpreender: a solidão e hesitação da personagem carregam mais uma nomeação aos prémios da temporada, incluindo a 21ª nomeação para os Óscares da carreira.

Já Tom Hanks, o James Stewart encarnado, é Ben Bradlee, o editor executivo, responsável por descobrir os documentos e atacar, com princípios, a verdade. Também é o maestro de um "ensemble" de excelentes actores, com fervorosa e humorada resposta dos membros da redação, em especial na interpretação de Bob Odenkirk.

Magnéticos e carismáticos, são as duas parangonas deste filme.

Só que Spielberg é também ele um maestro da tensão e do suspense. Já não há segredos para o realizador. Quer seja numa conversa telefónica que se transforma num momento decisivo da História, no tique-taque que espera que as gráficas comecem a trabalhar, ele mune-se dos seus habituais colaboradores e transporta-nos para o secretismo dos filmes de espionagem dos anos 70. Com a banda sonora de John Williams e cinematografia de Janusz Kaminski, são vários os momentos "hitchcockianos" de atmosfera tensa e de rastilho longo. Evocam em "The Post", a energia dos anos dourados do jornalismo e a necessidade de decisão. Que prevaleça sobre governos, documentos e a mentira. Sobre os presidentes Eisenhower, Nixon, Kennedy ou Trump.

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"The Post": nos cinemas a 25 de janeiro.

Crítica: Daniel Antero
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