A HISTÓRIA: Um casal de Manhattan muda-se para uma casa histórica em Hudson Valley, onde acaba por descobrir que o seu casamento está envolto por uma penumbra tão sinistra quanto a que envolve a história da nova casa. Baseado no aclamado romance de Elizabeth Brundage.

"Sussurros das Trevas": disponível na Netflix desde 29 de abril.


Crítica: Hugo Gomes

Esta adaptação do homónimo livro de Elizabeth Brundage tenta reunir os mais diferentes elementos do terror moderno e duradouro para chegar a um manifesto sobre a violência contra as mulheres. E se poderíamos encarar isto como um ensaio meritório à volta da quantidade de vezes que estas são colocadas como vítimas neste género de filmes, essa projeção é obstruída pelos habituais lugares-comuns, pela descrença no enredo e o pior, a falta de conceção de uma atmosfera eficaz, a que se juntam uns sustos “fora do prazo” e o dominante CGI [efeitos especiais].

O que sobra para ver é o automatismo da ação com algum exibicionismo técnico à mistura (nada de verdadeiramente impressionável, até os "travellings" são recortados pela imperatividade da edição e nada mais) de um filme que quer passar por terror para dar lugar a uma prova abalável de fé. Sim, há aqui qualquer de "coisa" espiritual, mesmo que nade diversas vezes contra a corrente geral, para ser vencido no fim por esta “força”.

Amanda Seyfried e F. Murray Abraham

A "coisa" mais assombrosa que poderemos encontrar em “Sussurros das Trevas” é a presença mais acentuada ao lado Amanda Seyfried de F. Murray Abraham, o vencedor do Óscar de Melhor Ator com “Amadeus” de Milos Forman que, nos últimos tempos, tem sido reduzido à presença em séries ou a pequenas participações em filmes de Wes Anderson e dos irmãos Coen (o que até não é desprestigiante). Não insinuando que este filme de “casa velhas” com macabro historial seja a escadaria para o seu regresso, mas … tem selo Netflix e há uma “maior” visibilidade, portanto é uma melhoria nos “biscates”.

“Sussurros das Trevas” é lamentável enquanto exercício do género que se insere ou até como o tal manifesto sobre a violência contra as mulheres, uma oportunidade perdida no legado e nos clichés à baila. Um mero conteúdo no catálogo da Netflix que se esquece com facilidade.