A HISTÓRIA: A história sobre o crescimento de Kingsley, de 12 anos, um menino com um fascínio por astronautas e foguetes. Quando Kingsley é chamado ao escritório do Diretor por destabilizar a turma, fica chocado ao descobrir que vai ser transferido para uma escola para pessoas com "necessidades especiais". Ocupados a trabalhar em dois empregos, os pais não sabiam que existia uma política de segregação não oficial, que impedia a muitas crianças negras, de terem a educação que mereciam - até que um grupo de mulheres das Índias Ocidentais resolve o problema por conta própria.

"Small Axe - Education": disponível na HBO desde 14 de dezembro.


Crítica: Hugo Gomes

E é com este pequeníssimo aperitivo (aparentemente) de "Education" que fecha a antologia “Small Axe”. Chave de ouro? Chave de prata ou bronze? Não interessa, o que importa é olhar para o quadro completo e entender aquilo que foi conquistado pelo criador e realizador Steve McQueen neste conjunto de cinco histórias, baseadas em pontos cruciais da luta contra a discriminação na sociedade britânica ou repescando as suas próprias experiências com esse sistema desigual.

“Education” alia-se este ponto do sistema desigual e Steve McQueen revela a sua afinidade com este material, sobretudo na forma como liberta memórias para criar um retrato clínico e crítico de um viciado sistema classicista com base em etnias.

A personagem de Kingsley Smith (interpretado por Kenyah Sandy) pode não ser a personificação do realizador, mas é o simulacro da sua própria experiência e da descrença num sistema educativo que lhe falhou, a ele e tantos outros da sua “cor”: uma máquina que impedia minorias de ascender através do ensino dentro da sociedade britânica, com base num preconceito ou numa lógica entranhada de designação de classes. Como se o “Admirável Mundo Novo”, o romance distópico de Aldous Huxley, servisse de base para a projeção da mais baixa das castas: os “sub-humanos”.

“Education” é a denúncia de práticas que atrasaram (e muito) a representatividade em diferentes setores da Grã-Bretanha de uma forma sóbria e distante de apelos emocionais ou demagogias baratas. Um filme que branda por armas, gestos, vontades e atitudes, para que o que aconteceu não se volte a repetir. Com exceção de “Mangrove” [ler crítica], esse é o grande feito desta antologia de filmes “Small Axe”, a sua subliminar linguagem sem nunca perder o fio do seu lado ativista.

Este pode não ser o melhor dos filmes (continuamos apaixonamos pela câmara envolvente de “Lovers Rock” [ler crítica]), mas é definitivamente uma das razões para chegarmos a causas que nunca têm fim.

Olhando para trás, estas personagens de "Small Axe" ainda têm muito para oferecer, para "viver". Desejamos prosseguir pelo romance que nasceu nos salões clandestinos de “Lovers Rock” ou assistir à consolidação da relação entre pai e filho em “Red, White and Blue” [ler crítica]. E no caso de "Education", qual será a ambições que o pequeno Kingleys seguirá? Ser astronauta ou jogador do Tottenham?