Ao som de Jump de Van Halen, o novo filme de Steven Spielberg é uma espécie de "Charlie e a Fábrica de Chocolates" para "geeks", onde um "easter egg" trará fortuna, e a missão é a epítome da nostalgia.

Com uma identidade infinita e circular nas mãos, o realizador que padronizou a nossa imaginação com os seres fantásticos de outras eras e planetas, adapta o livro de Ernest Cline, "Ready Player One - Jogador 1" e convida-nos para entrar no OASIS, um universo "sci-fi" futurista obcecado pela nostalgia da cultura pop e videojogos.

Precisa de mais para estar convencido? Portanto, “might as well jump!”

E salta para o ano de 2045, onde o mundo está à beira do caos, repleto de conflitos e escassez de recursos. Ohio é uma favela e a população prefere libertar-se no universo virtual do Oasis, onde podem escolher o seu avatar (Beetlejuice, personagens de "Star Trek" à disposição, p.e.).

Lá, vivem num "hyperspace" de neons, bares "retro arcade" e um “name dropper” constante, pois as referências do nosso divertimento dos últimos 30 anos estão todas lá encaixotadas!

Apesar de ter momentos evidentes e autoexplicativos: “Olha, é o DeLorean!”, o filme estabelece-se também para lá do "fandom", indicando algumas referências menos óbvias ao grande público, como Gigante de Ferro ou Akira, suportando um universo dos anos 80 em memória douradas: Battletoads, Spaceballs, Batman, são só alguns…

Mas estas referências serão importantes para o filme e para as personagens? Sim, mas "spoilers" não são permitidos aqui.

Quando morre o criador do jogo James Halliday (Mark Rylance como um frágil Steve Jobs), três chaves são escondidas naquele mundo virtual. Quem as encontrar, terá o controlo da sua empresa!

Wade Watts /Parzival (Tye Sheridan) é o nosso Gunter de serviço e lado a lado com Art3mis (Olivia Cooke), irão enfrentar Nolan Sorrento (Ben Mendelsohn), o CEO louco e megalómano da IOI que quer a todo o custo as chaves. Enquanto que Sorrento tem dinheiro para ter cada vez mais força no jogo, Watts tem... um conhecimento "uber geek", algo "savant", de todos os truques. Todos temos um amigo assim!

Com a estrutura de um videojogo e a mentalidade de um "gamer", o Oasis identifica o porquê do escapismo e da segunda pele de quem joga, onde "modding", lojas de "collectibles", itens raros ou "guilds" fazem parte da aventura.

Mas o mundo real também tem o seu espaço, onde Spielberg pendura-se nos seus mecanismos preferidos de pertença e ilusão: crianças perdidas, rebelião, famílias despedaçadas são motivos para desenvolver a crítica à obsessão da nostalgia e à necessidade de avatares. Como Wade/Parzival terá de compreender de forma brutal e voltar a ponderar a comunicação e a identidade do seu ser real.

Repleto de CGI, como que um irmão de quarta geração das experiências de "As Aventuras de Tintin", este "Ready Player One - Jogador 1" é uma homenagem divertida às horas gastas em frente a um CRT, agora transposta por uns óculos VR.

Mas se tiramos os mesmos, veremos um filme de aventura com a pureza e a excitação do melhor de Spielberg e um puzzle de referências que nos fará encará-lo como um jogo dentro de um jogo... sobre um jogo!

"Ready Player One - Jogador 1": nos cinemas a 29 de março.

Crítica: Daniel Antero
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