A HISTÓRIA: Gepetto é um velho carpinteiro que cria uma marioneta e vê algo mágico acontecer – a sua marioneta ganha vida, começa a falar, consegue andar, comer e correr como qualquer criança. Geppetto dá-lhe o nome de Pinóquio e cria-o como sendo seu filho. Mas Pinóquio tem dificuldades em comportar-se. Facilmente desencaminhado, anda de desventura em desventura sendo enganado, raptado e perseguido por ladrões, num mundo fantástico, repleto de criaturas e locais incríveis...

"Listen": nos cinemas a 5 de novembro.


Crítica: Daniel Antero

Matteo Garrone já tinha sido inebriado pela ambiência sombria do mundo da fantasia com “Conto dos Contos” (2015), que respirou os fumos do caldeirão criativo de Giambattista Basile e entrelaçou um universo tanto belo e sumptuoso como grotesco e perverso.

Esta intenção permanece na sua nova aventura pelo fantástico, agora adaptando o conto infantil "Pinocchio", obra primordial na imaginação de todos aqueles que cresceram com a versão animada da Disney.

Ao contrário da empresa de Walt Disney, sempre pródiga em embelezar e amaciar contos originalmente negros e até macabros, Garrone e o co-argumentista Massimo Ceccherini focam-se fielmente no conto original de Carlo Collodi (1883), elevando o obscuro e a crueldade humana, assumindo a essência da sua génese enquanto fábula moral perturbadora.

Outrora parábola que nos ensinou a não mentir, a iteração de Garrone traz-nos a pequena marioneta de madeira como uma versão mais inconsequente, que não se preocupa assim tanto em se tornar um menino de verdade e obedece mais aos seus impulsos do que às lições de vida dos que o aconselham.

Nascido ontem pelas mãos do solitário artesão Gepetto (Roberto Benigni, que já realizou e interpretou a sua própria versão da história em 2002), num mundo onde a crueldade e a pobreza deixam pessoas famintas, desprezadas, e a subjugação é necessária para a sobrevivência, Pinóquio (Federico Ielapi) nada sabe. E na verdade, pouco quer saber, tornando-se o alvo perfeito para as armadilhas cruéis dos maltrapilhos trapaceiros que o irão vender, enforcar e queimar.

"Pinóquio" podia contornar estes momentos se mentisse. Mas Garrone parece querer que a humanidade impregne a criança de madeira através do sofrimento, da exploração e da catarse. Ironicamente, quando Pinóquio mente - e o seu nariz não cresce - fá-lo assumindo ações más, que nós sabemos que o seu coração puro nunca lhe permitiria que as fizesse.

Romanceado através de várias aventuras auto-conclusivas, "Pinóquio" é um repasto visual, onde Garrone procura a alma assustadora dos contos infantis.

Por vezes evoca "Freaks/A Parada dos Monstros", de Tod Browning (1932), noutras, o melhor de Terry Gilliam, através de um naturalismo estético e efeitos práticos, conformado na qualidade requintada e perturbadora dos rostos humanos que brotam das faces de várias criaturas antropomórficas.

Mas dada a nossa familiaridade com a obra da Disney, é difícil encantarmo-nos com estas personagens passageiras, pois há um jogo de expectativas que prejudica a nossa assimilação deste "Pinóquio". E mesmo o realizador italiano parece, por vezes, perdido nos seus caprichos, renegando a essência da história em detrimento de alguma luxúria visual, confuso em definir se este é um filme de fantasia e magia, de horror perverso ou um drama metafórico.

Comovente e ternurento, "Pinóquio" é o filme de abertura da 13ª edição da Festa do Cinema Italiano a 4 de novembro.

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