A HISTÓRIA: Um 'thriller' épico de vingança que explora quão longe um príncipe Viking é capaz de ir para fazer justiça pelo assassinato do seu pai.

"O Homem do Norte": nos cinemas desde 21 de abril.


Crítica: Daniel Antero

Com orçamentos baixos, espaços fechados e narrativas maníacas interpretadas por excelentes actores, Robert Eggers estabeleceu-se como um dos realizadores mais desafiantes do cinema de género contemporâneo.

Se em “A Bruxa” levou-nos ao século XVII para seguir uma família puritana, expulsa da sua comunidade religiosa e assombrada por um bode demoníaco, em “O Farol” convidou-nos ao remoto Maine do século XIX, para vermos Willem Dafoe e Robert Pattinson ensandecerem com gaivotas e sereias.

Naqueles tempos, Eggers fez com que a crença espiritual e a alucinação se entrelaçassem num vortex etéreo, poético, e contaminassem tanto a mente das suas personagens como as nossas.

Bem, depois do sucesso destas obras, foi com entusiasmo e intriga que seguimos as primeiras notas de produção de “O Homem do Norte”.

Anunciado como um épico viking, feroz e musculado, repleto de atores de renome - Alexander Skarsgård, Ethan Hawke, Willem Dafoe, Claes Bang, Anya Taylor-Joy, Nicole Kidman e Björk - este novo filme do realizador norte-americano fez pairar a questão: estaria Eggers pronto para um compromisso comercial, abraçar o "blockbuster" e ainda conseguir vincar o seu registo autoral?

“O Homem do Norte” é uma ode brutal e sangrenta que revira as tripas da saga folclórica nórdica “Vita Amlethi”, obra de influência para Shakespeare e o seu “Hamlet”. A história é-nos, portanto, familiar: um conto tenebroso de vingança e misticismo, aqui sem o lirismo e a teatralidade do autor inglês, mas com o nervo primordial, carnal, cru e guerreiro do que associamos ser-se Viking.

Eggers escreveu o guião com o dramaturgo islandês Sjón (Lamb) e imbuiu-se de crueldade, respirando uma violência e autenticidade com sangue-frio. Violações e desmembramentos acontecem em pano de fundo enquanto a beleza dos nossos heróis Amleth (Alexander Skarsgård) e Olga of the Birch Forest (Anya Taylor-Joy) proclama a força sobrenatural e endeusada de Odin e Valhalla, e a representação de um povo.

Preparemo-nos para seguir eventos catárticos, estados de ânimo cada vez mais acentuados e uma linearidade simplista na narrativa.. que, na verdade, não precisa de ser desenvolvida. Eggers, com a cinematografia imersiva de Jarin Blaschke, quer que vivamos a mitologia e o quadro de terror pintado a sangue por Amleth: este guerreiro move-se num mundo de brutalidade e Eggers interpreta-o como acredita e investigara que seria. Mas sem esquecer que, apesar de toda a sua ferocidade, os Vikings também mantinham a sua forte espiritualidade. Tal como o realizador e o seu cunho autoral.