A HISTÓRIA: Dois amigos, que não são cientistas profissionais, nem especialistas em zoologia, encontram uma mosca gigante. Ambos decidem andar com a mesma no porta-bagagens do carro e tentar domesticá-la, com o principal objetivo de tornar esta aventura rentável.

"Mandíbulas": nos cinemas a partir de 16 de setembro.


Crítica: Hugo Gomes

Quando a bizarria se torna um gesto autoral, Quentin Dupieux assume-se como um dos nomes fortes desse cinema de realidades violadas por um elo absurdo e fantástico, mas sempre pontuadas com o seu quê de existencialismo metafórico.

O realizador em estado de graça desde que fez o atípico relato de um pneu assassino em “Rubber” (2010) e cujo anterior conto obsessivo era sobre um homem determinado a exterminar todos os casacos de pele de camurça em “100 % Camurça” (2019), regressa agora com "Mandíbulas", um "bromance" constantemente desafiado pelas excentricidades da sua própria jornada.

Os comediantes Grégoire Ludig e David Marsais interpretam aqui uma espécie de Harry e Lloyd (do sucesso de “Doidos à Solta”) em versão francófona. São uns taralhoucos criminosos, “entranhados” em imbróglios resultantes das suas incapacidades e “imbecilidades”, que se deparam com uma inexplicável mosca gigante e engendram um caricato plano para amestrá-la.

Tendo uma veia cómica mais acentuada e reluzente, "Mandíbulas" parece funcionar como uma piada prolongada e arrastada por "sketches" dignos desse humor na fronteira do absurdo e da malapata. Mas o filme vive apenas disso, dessa coletânea fluída, e revela-se um esforço inerte, ainda que não se possa deixar de destacar Adèle Exarchopoulos, que nesta arriscada caricatura nos desafia a olhar para ela fora dos contextos “sex symbol” ou da eterna diva “kechichiana” de "A Vida de Adèle" (2012).

Já a mosca, o acidentado “Macguffin” que dá origem à história, presencia-se como um elemento “normalizado” num biótopo surreal e de uma extravagância sui generis. Mas vemos pouco da criatura, não no sentido visual mas de forma mais interativa com o resto da ação. Embora percebamos que toda esta anedota advém de um pretexto moral e que o inseto colossal é o impulsor, mesmo que soe forçado num final, literalmente, caído do céu. O resto que há para ver é mirabolantemente seco e gasto e, infelizmente, “Mandíbulas” é um daqueles casos de "ter mais olhos que barriga".

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