A HISTÓRIA: O Deus da Mentira sai da sombra do seu irmão Thor na nova série que acontece após os eventos de "Vingadores: Endgame".

"Loki": novos episódios às quartas-feiras a partir de 9 de junho no Disney+.


Crítica: Daniel Antero (visionamento do primeiro dos seis episódios)

Deus do Mal, Filho dos Segredos, Príncipe de Asgard. Nomes majestosos para um dos vilões mais queridos do Universo Cinematográfico Marvel. A personalidade multifacetada, própria de um mago da metamorfose, reúne-se na simplicidade do nome Loki e, nos tempos que correm, no corpo e expressividade charmosa e teatral do ator inglês Tom Hiddleston.

Após a morte da personagem às mãos de Thanos, os fãs choraram a despedida, como que se esquecendo de que estavam a lidar com o Deus das Ilusões. Porque, afinal, Loki e Tom, indissociáveis, estão de volta para mais um capítulo da sua vida. Ou uma variação dela ...

Disponível no Disney+, a série "Loki" embrenha-se na teia temporal do universo Marvel, entrelaçando as suas linhas narrativas para abrir mais uma via direta à Fase 4 após a conclusão de "Vingadores: Endgame".

O primeiro episódio abre em 2012, com cenas de “Os Vingadores”. Após a invasão falhada de Midgard e a captura de Loki às mãos daqueles super-heróis, o vilão vê-se subitamente com o Tesseract em seu poder. Com a fuga à sua mercê, Loki escapa e abre uma nova linha temporal, mal sabendo que está a ir de encontro à Autoridade das Variações Temporais (AVT), uma organização encarregada de proteger a Linha Temporal Sagrada em nome dos omniscientes Guardiões do Tempo.

Sempre que acontece algo disruptivo na linearidade, ocorre um evento Nexus - algo que os fãs de "WandaVision" irão perceber - e a AVT entra em ação para ordenar o fluxo dos eventos e evitar a criação de um multiverso. Com o filme "Doctor Strange in the Multiverse of Madness" previsto para 2022, parece-nos que não vão ser lá muito bem-sucedidos…

Este é o grande trunfo e novidade desta série de seis episódios, onde Loki aprende que se “tornou” um Variante e tem de lidar com o sistema judicial da AVT.

É um universo retrofuturista que evoca os mundos de Terry Gilliam como "Brazil: O Outro Lado do Sonho" (1985) e "12 Macacos" (1995), repleto de burocracias e seriedade descompensada. Por escritórios aborrecidos, monocromáticos, cheios de secretários, analistas, juízas e soldados, vamos espreitando as maquinações e operações desta instituição, percebendo ao mesmo tempo de Loki que algo aterrador está para ser revelado.

Ao lado do anti-herói surge Mobius M. Mobius (Owen Wilson), o único que não quer re-ordenar Loki, mas sim aproveitar-se dele para enfrentar um mal ainda maior. E é pela via do humor sagaz de Mobius e da verborreia "shakesperiana" de Loki, com o seu "bromance" e baralhando as intenções de cada um e conjecturando dúvidas sobre identidade e livre-arbítrio, que a realizadora Kate Herron e o escritor Michael Waldron ("Rick and Morty") balançam o conteúdo expositivo do vasto universo que aí vem.

A aposta é forte nesta dinâmica, como se Mobius e Loki replicassem o espírito de séries como "White Collar" ou "Psych", onde um criminoso ajuda a polícia, e nos preparassem para a ginástica temporal de um filme como o "Looper", de Rian Johnson (2012).

Com um início lento, mas convidativo, palavroso mas aguçado, o primeiro episódio de “Loki” ordenou as regras e colocou o Deus das Ilusões no seu lugar, até agora desconhecido, tendo em conta o vasto universo e a malha temporal. E quando isto vem ter a uma personagem que é um agente do caos... algo poderoso se avizinha.