Tudo aconteceu no dia 28 de novembro, quando vários locais da cidade de Mumbai (Bombaim, na Índia) foram atacados por indivíduos pertencentes à Lashkar-e-Taiba, uma célula terrorista islâmica do Paquistão. Entre os alvos, o Hotel de Luxo Taj foi o mais mediático, tendo os atacantes feito reféns funcionários e hóspedes durante dois dias.

O cinema, enquanto máquina de emoções, não poderia deixar de parte mais uma tragédia humana como impulsor de novas histórias. O problema é que as histórias não são por si novas, e neste caso específico, haveria duas opções: restringir-se aos factos reais ou assumir algumas liberdades.

Esta primeira longa-metragem de Anthony Maras joga-se entre os dois pontos, ora tenta descrever os ataques de uma maneira minuciosa, com ares de câmara à mão, como faz com destreza Paul Greengrass (“Vôo 93”, a saga "Jason Bourne"), ora tenta ficcionalizar os próprios eventos, criando personagens para mexer com a nossa sensibilidade enquanto espectadores.

Aqui joga-se com todos os traços de ensaio humanista e de esperançoso no meio do iminente desastre. É uma mão cheia de trunfos previstos, mas que se preocupa cuidadosamente em posicionar cada uma das personagens na sua dita ação. Entre elas, Dev Patel, o ator indiano que já por si é vítima do chamado “casting tipo”, ou um desinspirado Armie Hammer em companhia com Jason Isaacs (e o seu sotaque).

Infelizmente, nenhuma se apresenta acima da unidimensionalidade, o que, por um lado, evita qualquer reflexão sobre representabilidade e desinformação político-social por estas bandas. E como consequência dessa preocupação prioritária em colocar as personagens na ação em vez de as abordar, a tragédia torna-se num objeto inconsequente e falhado quanto aos alvos emocionais que desejava abater.

A competência do "storytelling" resulta aqui num fogo de artifício de segunda … ou será um drama por si artificial? Esta deixo para o leitor escolher...

"Hotel Mumbai": nos cinemas a 23 de maio.

Crítica: Hugo Gomes

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