"A Girl Walks Home Alone at Night" foi o filme de estreia de Ana Lily Amirpour, um melodrama com ecos de Jarmusch, Kaurismaki ou mesmo Lynch, que apresentou uma abordagem feminina distinta no género vampiresco e alcançou estatuto de culto.

O seu segundo filme, "The Bad Batch - Terra sem Lei", continua a sua relação 'pop' com sub-géneros de 'exploitation', agora com espaço para canibais, alucinogénicos e referências como "Mad Max", Jodorowsky, 'torture porn' e 'acid westerns' dos anos 60/70.

Vencedor do Prémio Especial do Júri no Festival de Veneza de 2016, traz-nos mais um universo distópico onde criminosos e outras pessoas, sem razão distinta, são ostracizadas para lá de uma cerca.

“Lá” é o deserto, habitado por duas fações distintas: num amontoado de lixo vivem os canibais, culturistas e bronzeados que vagueiam em busca de carne para o seu barbecue; a outra: a cidade de Comfort, onde raves têm lugar todas as noites e os habitantes coloridos procuram The Dream, uma promessa 'stoner' na figura de Keanu Reeves, que se resguarda atrás de mulheres grávidas, armadas.

O filme centra-se em Arlen (Suki Waterhouse), uma rapariga recentemente escorraçada, que é capturada pelos canibais, mutilada e presa para futuras refeições. Sem uma perna e um braço, acaba por fugir e abrigar-se em Comfort. Mas não se sente... confortável... e abandona a cidade, para dar de caras com a filha de Miami Man (Jason Momoa), uma criança que mais parece a Feral Kid de "Mad Max", cujo pai tem alma de artista tanto para o desenho como para trinchar membros humanos.

Com muito pouco diálogo, parte do filme centra-se na evolução da relação amorosa entre Miami Man e Arlen, enquanto buscam a filha daquele, entretanto desaparecida para os aposentos de The Dream.

De visual estilizado mas forçado, "The Bad Batch" é retratado por Amirpour com truques simples de imersão mas que se desmancham com lugares-comum, nomeadamente uma 'trip' de Arlen retratada no início de forma subtil, com uns simples neos projectados no rosto, que descamba numa imagética com o universo estrelar em rotação e o rosto de Arlen ao centro. Quantas vezes já não vimos isto?

Uma banda sonora vasta, que vai desde Ace of Base a “All The Colours of The Dark” de Federale (piscar de olho ao 'giallo' homónimo), reforçam a fábula e acompanham os 'cameos' inesperados de várias estrelas de cinema: Giovani Ribsi é o maluquinho da aldeia, Diego Luna o MC que debita a sua música numa 'boom box' gigante e Jim Carrey é o ermita de pele queimada com mais inteligência que a cidade toda junta.

Presenças metafóricas ou não de um final por vir, são arquétipos simplórios num guião desinspirado que não chegam para manter o interesse no visual ou abafar as interpretações medíocres de Momoa ou Waterhouse.

"The Bad Batch - Terra sem Lei" é Ana Lily Amirpour a focar-se na estética e a perder-se no que a demarcou dos demais: ser singular, surreal e segura.

Crítica: Daniel Antero

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