"Mulheres do Século XX" é um filme sobre o estado de pertença num mundo mutável, onde as referências se perdem na busca inglória de se ser alguém e ter o seu caminho definido. É um filme sobre o crescimento do homem do amanhã, sob o olhar atento de três mulheres perdidas no seu próprio lugar. E é uma manta de memórias de uma época: os anos 1970 na Califórnia.

Annette Benning é a mãe enrolada no turbilhão de novidades, que sente o seu filho Jamie numa encruzilhada. Sem o apoio de uma figura paternal e disposta a estender-lhe um caminho, pede ajuda a outras duas mulheres que o rodeiam: Elle Fanning, no papel da amiga de infância de Jamie, e Greta Gerwig, que interpreta Abbie, uma punk fotógrafa que lida com as repercussões de cancro. As três, com as suas experiências e diferentes entendimentos geracionais da época, controlam o amadurecimento do Jamie assustado, excitado, perdido, aventureiro...e alertam-no para a sensibilidade, para o respeito e para as cores imensas da vida... servindo-se também da sua inocência e conforto, para endireitarem os seus próprios rumos.

Mike Mills, um realizador que se reúne de elementos autobiográficos para simplificar o caleidoscópio de uma era, pinta a personagem principal com as cores da sua própria mãe. Dorothea é uma personagem de contradições, que cresceu na Grande Depressão e transformou-se numa hippie de meia idade que acredita sempre... que viver perguntando se somos felizes, é o caminho directo para estarmos deprimidos. Annette Benning tem uma das suas melhores interpretações, mas infelizmente a Academia esqueceu-se dela nas nomeações para Melhor Atriz.

Com um argumento singelo, como polaroids perdidas no tempo, três estereótipos femininos vão desenrolando as suas camadas: a artista sonhadora, a adolescente sexualizada, a mãe hippie...celebrando a mulher enquanto pioneira e protetora do homem, num filme terno, descontraído e cheio de humor pateta, que relativiza o desespero e a descontinuidade espacial do "ser", numa época de indefinição.

Autor: Daniel Antero