A HISTÓRIA: No século XVI, durante as guerras civis que assolam o Japão, uma princesa, a sua família, os seus guerreiros e o seu tesouro são perseguidos. A cabeça da princesa está a prémio. A princesa parte em busca de refúgio com um general, dois camponeses que este capturara, e o tesouro. Para chegar a uma região segura, o grupo deve atravessar território inimigo..

"A Fortaleza Escondida": reposição nos cinemas a 8 de outubro.


Crítica: Hugo Gomes

Afastado do tom dramático e de feroz violência que o acompanhara nos contos de honra coletados em "Os Sete Samurais" (1955) e no tratamento shakespeariano de “O Trono de Sangue” (1958), Akira Kurosawa estreou-se em 'widescreen' com a aventura feudal “A Fortaleza Escondida”.

O filme viria a abraçar o espírito igualmente heroico dos sucessos do realizador, da mesma forma que convidava ao humor e ao crescendo 'karma' de um par de larápios sem eira nem beira (Minoru Chiaki e Kamatari Fujiwara), com os quais esta jornada parte e finaliza. Em segundo plano, o subenredo de uma princesa prometida (Misa Uehara) e de um ouro destinado ao ressurgimento de um império escondido num Japão em permanente conflito tribal, percorrido passo-a-passo com a malapata destes improváveis protagonistas, nem sequer afáveis ao espectador ou aptos para epifanias morais.

Como já parece ser habitual nos grandes êxitos de Kurosawa (até à data era a sua mais bem-sucedida produção, estatuto apenas ‘quebrado’ com a chegada de "Yojimbo" em 1961), esta mudança de perspetiva ‘contagiou’ um certo cinema ocidental de ação, com destaque para o assegurado por George Lucas na criação do primeiro “Star Wars” em 1977 (não somente na princesa crucial para o destino de um império como também nos dois pseudo-protagonistas, que seriam traduzidos para os andróides C-3PO e R2D2 na saga intergaláctica).

Porém, se a mudança de tom o menorizou em termos críticos comparativamente às suas anteriores criações, o que não deixou dúvidas foram aos alicerces de espetáculo aqui evidenciados, demonstrando a destreza e o perfeccionismo pelo qual o cineasta nipónico era fervorosamente louvado, com sequências ambiciosas que consolidavam a ação armada e cavalgante com centenas de figurantes, ora toscos, ora sincronizados. Para além disso, as paisagens naturais utilizadas como parceiros de viagem trariam um realismo geográfico de mãos dadas com um exotismo algo inóspito.

Desta forma, Kurosawa abraçava o subgénero “jidai-geki” (designação dada aos filmes nipónicos de época, muitas vezes de samurais) polvilhando-o com “pozinhos” de western fordiano, numa espécie de permanente jogo de antípodas. Era o circo cinematográfico à moda do Sol Nascente, e com que espetacularidade este se apresentava!