Foram meses a fios de marketing atrás de marketing, muitas vezes liderado pela própria Brie Larson, sobre uma temática de empoderamento feminino neste “Captain Marvel”, com a primeira super-heroína deste Universo Partilhado. Mas o feminismo é muito mais que mulheres de poderes ilimitados, e nesse aspeto a rival DC conseguiu, com maior senso fílmico, essa “proeza” com “Mulher Maravilha”.

Sim, convém afirmar, para além de todo o fundamentalismo gerado pelos fãs deste género de filmes, que a Marvel / Disney, em particular, sempre tratou muito mal as personagens femininas.

Ora, se Black Widow (Scarlet Johansson) era sempre recorrida como um interesse algo amoroso nos protagonistas masculinos, e se Scarlett Witch (Elisabeth Olsen) possuía uma sotaque que não lhe garantia credibilidade alguma, o maior feito neste ramo pelo estúdio se encontrou em “Black Panther” com a personagem de Okoye (Danai Gurira), a guarda-costas pessoal do homónimo herói, a “roubar” o já adquirido protagonismo.

Com “Captain Marvel”, o que estava em jogo era dar enfoque às mulheres nos comics neste Universo Partilhado, obviamente que a oportunidade foi vista pela então escolhida Brie Larson como uma difusão de mensagens de valorização feminina. Contudo, não podemos ficar pelas montagens motivacionais aqui introduzidas (a semelhar tantas outras que vemos nas nossas redes sociais) ou dos seus poderes quase divinos que surgem como Deus Ex Machina na resolução do conflito da trama.

Nada disso, há que existir um filme, e muito mais um que se destaca da saturação do cinema de super-heróis que o nosso panorama atravessa. Ficaríamos satisfeitos, até mesmo os fãs, que tudo não passasse da enésima revisão da fórmula vencedora, mas mesmo dentro dos parâmetros MCU, o fracasso narrativo é aquilo com que somos brindados.

Dito assim de forma rompante, a ação é tosca, muito devedora de slow-motions ou de uma escassez criativa programada pela pirotecnia CGI.

Porém, se todos os problemas fossem esses: de forma a tentar contrariar o território comum dos filmes de origem, “Captain Marvel” embica pelo “fast forward” como ginástica para a introdução desta heroína no seu devido espaço.

Depois é a ação decorrida no Planeta Terra que se revela num campo de minas quanto a referências dos anos 90. Quase como um espelho da tendenciosa invocação da nostalgia 80, este inventário de uma nova década chega a soar como uma distração da trama.

E é aí que passamos a outro grande problema, o subaproveitamento dos seus atores. Se por um lado doi ver Annette Bening naqueles preparos, por outro é Samuel L. Jackson e o seu gato que resgatam um filme completamente condenado à ausência de carisma de Brie Larson, onde as piadas dita “marvelescas” não encontram nela imposição. Sim, o nosso Nick Fury é emocionalmente expressivo, e vale pelos dois. Ao menos isso.

E se a “frescura” era um elemento que à partida não iriamos dar por garantido aqui, é também verdade que todo este capítulo recorre aos facciosos engenhos dos últimos filmes.

A ambiguidade trazida pela jornada do herói (heroína, neste caso) e uma desconstrução no papel do antagonista (sabendo que neste caso, tudo é esquecível). E claro, o jogo de sempre que é pegar em realizadores de algum talento no circuito independente, neste caso a dupla Anna Boden e Ryan Fleck (“Half Nelson – Encurralados”), e convertê-los em perfeitos tarefeiros (só James Gunn e Taika Watiti conseguiram dar a volta à imperatividade deste estúdio).

Tornando-se num aperitivo ao megalómano “Endgame”, “Captain Marvel” poderá ter a infelicidade de se tornar numa prima afastada de “Lanterna Verde”, só que mais pretensiosa e nem por isso … mais brilhante.

"Captain Marvel (Capitão Marvel): nos cinemas a 6 de março.

Crítica: Hugo Gomes

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