A HISTÓRIA: Uma mulher, uma mala e um cão. Enquanto ela espera que o seu ex-amante venha buscar as suas coisas, um tumulto emocional percorre-a e explode em todo o tipo de estados de sofrimento. Da raiva ao desprezo, ela enfrenta a mágoa de ser abandonada, tendo por seu único companheiro um cão que também perdeu o seu dono.

"A Voz Humana": nos cinemas a partir de 15 de julho.


Crítica: Hugo Gomes

Será que para fazer cinema é preciso cumprir uma devida e específica duração? Existe alguma regra raiz-quadrada que transforma automaticamente cada metragem em cinema propriamente dito? Pedro Almodóvar prova que não. A barreira quase estigmatizada da curta para a longa-metragem é apenas uma formalidade, porque o registo de menor tempo é preciso para a sua mensagem, ou antes, o seu cinema.

"A Voz Humana", livremente baseado numa peça do poeta e cineasta Jean Cocteau (publicada em 1924), é uma invocação de um fantasma recorrente que assola o realizador espanhol. A homónima obra sempre fora uma inspiração, evidentemente cerne do seu intemporalmente elogiado "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos" (mas antes "Lei do Desejo" bebia desses mesmos sucos motivadores), sobre a espera incessante e destrutiva pelo seu amante. Aqui, trocando Carmen Maura por Tilda Swinton, a plasticidade mantém-se ainda complexa, num registo meta que cruza o "teatro filmado" com o cinema a olhar para a sua própria conceção.

A atriz britânica é das forças maiores deste projeto, que requer mais do que a sua capacidade de assimilar, a sua expressão em nos convencer de uma veracidade poética tida nas suas palavras, nas suas angústias, na sua linguagem corporal, enquanto emana um monólogo justificado. Esta é a história de uma mulher em jornadas existencialistas cuja ausência do seu "mais que tudo", o impulsor de toda a postura trágica, a leva a tomar medidas.

Almodóvar prova mais uma vez que é um artesão na sua arte. E que arte é essa? A de dar voz a mulheres oprimidas pelas suas próprias emoções, sejam ela reprimidas ou libertadoras. E para isso não é necessário uma narrativa estendida. Meia-hora, simplesmente isso, é o que basta para oferecer espetacularidade dramática e performativa.

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