A HISTÓRIA: Quatro guerreiros imortais, que protegem a humanidade em segredo há séculos, são perseguidos pelos seus misteriosos poderes, justamente quando descobrem uma nova imortal.

"A Velha Guarda" está disponível na Netflix Portugal desde 10 de julho.


Crítica: Daniel Antero

Tal como a banda desenhada homónima de Greg Rucka e Leandro Fernández, "A Velha Guarda" narra a história de mercenários humanitários que vagueiam pelos séculos, presos numa imortalidade inexplicável.

Com esta premissa, numa era de reciclagem de sinopses com augúrio para encaixes financeiros e fidelização de clientes que buscam entretenimento rápido, a Netflix tem a oportunidade de manipular e alterar as peças a seu bel-prazer: personagens de diferentes credos podem ser criadas a qualquer momento; projetos específicos podem servir como prequelas, sequelas ou "spin-off"; e diversidade e talento são questões contratuais pois a pré-produção é suficientemente fluída para se criar um registo/papel específico para um ator, realizador ou cenário.

A realizadora norte-americana Gina Prince-Bythewood implementa os ingredientes nesta aventura que junta a sul-africana Charlize Theron, o belga Matthias Schoenaerts, o holandês Marwan Kenzari e o italiano Luca Marinelli (formando um casal gay) como imortais de origens geográficas e temporais diferentes da História da Humanidade, ligados telepaticamente, partilhando sonhos e reconhecendo ao mesmo tempo quando é "criado" mais um da sua espécie.

É isto que acontece quando “encontram” uma soldado no Afeganistão (a norte-americana negra Kiki Layne), que passa a caminhar miraculosamente após ser degolada. Com ela, e como ela, os espectadores tornam-se os novos membros deste grupo, ficando a conhecer a mitologia desta sina perpétua que até poderia ser abençoada mas, para alguns, é mais uma maldição difícil de suportar.

Aqui, "A Velha Guarda" distingue-se de outros filmes e séries do género pois a realizadora Prince-Bythewood busca incessantemente momentos mais íntimos para as suas personagens, despidas de pompa e arrogância por traumas, angústias e o calejar do tempo. Agora, estes "imortais" têm o coração na boca e são mais como cowboys que querem ser deixados em paz.

Esta carga emotiva alimenta a ação, onde os guerreiros bailam com a morte à frente de inimigos, como uma máquina oleada de combate. Só que os elementos técnicos e a previsibilidade do argumento retiram voracidade ao filme: o "twist" final está escancarado, a banda sonora intrusiva arrasta-o para um registo videoclip e flashbacks mal-executados e apressados fazem-nos ter vontade de pegar no comando.

Claro que a Netflix tem aqui mais um filão para franchisar. Pena que não tenha percebido o poder que é ter nas mãos um filme americano dirigido por uma mulher negra e um grupo multicultural de atores liderado por duas mulheres, deixando-o com o peso do cansaço acumulado das eras históricas...