A HISTÓRIA: Anna Fox (Amy Adams) é uma psicóloga infantil com agorafobia que dá por si a controlar a família aparentemente perfeita dos vizinhos através da janela do seu apartamento, em Nova Iorque. A vida de Anna é virada do avesso quando testemunha inadvertidamente um crime brutal.

"A Mulher à Janela": disponível na Netflix desde 14 de maio.


Crítica: Daniel Antero

A.J. Finn, pseudónimo do escritor Dan Mallory, tornou-se famoso por dois eventos da sua vida: o lançamento do best-seller “The Woman in The Window”; e a divulgação das suas fábulas, espectros de manipulação com que se rodeou e afetou os demais na sua vida. Doenças terminais, suicídios na família, e refúgios mentais compuseram a sua narrativa pessoal, mentiras das quais se procurou ilibar, argumentando a quem ludibriou que tinha transtorno bipolar II.

Este caminho sinuoso estendeu-se ao material do seu livro, concebido com o propósito de desnortear o leitor. Cópia/pastiche de várias narrativas como "Gone Girl - Em Parte Incerta", de David Fincher (2014), ou o muito esquecido "Cópia Mortal" (1995), com Sigourney Weaver e Holly Hunter, “A Mulher à Janela” tem como foco do seu enredo uma mulher agorafóbica presa num ciclo de medicamentos e álcool, que vai perdendo o controlo da sua sanidade após assistir da sua janela a um crime do outro lado da rua. De câmara fotográfica na mão, irá capturar a verdade?

Como o próprio Finn, esta mulher faz-nos seguir a sua perspetiva dos eventos. Mas qual é a realidade? O que é alucinação? É a nossa narradora fiável naquilo que vê e que viu?

Com uma muito divulgada produção caótica, repleta de refilmagens e mau feedback nas sessões de teste, “A Mulher à Janela” foi adaptado pelo realizador Joe Wright ("Anna Karenina" e "Expiação") e acabou por ser vendido pela Disney à Netflix sem passar pelos cinemas. À imagem do seu material original, é um "thriller" psicológico de ritmo pausado que revela uma amálgama de eventos desorientadores.

Misturando elementos alucinogénios, traumas do passado e onde se descobrem referências cinematográficas a filmes classícos como “Laura”, de Otto Preminger (1945), “O Prisioneiro do Passado”, de Delmer Daves (1947), “A Casa Encantada” (1945) e claro, “Janela Indiscreta” (1954), ambos de Alfred Hitchcock, Wright procura enveredar-nos na realidade distorcida de Anna Fox (Amy Adams).

Ela é o centro das interações numa lista infindável de talento de atores, aqui inexplicavelmente desaproveitados. Julianne Moore, Gary Oldman, Anthony Mackie, Jennifer Jason Leigh, Tracy Letts e Wyatt Russell, povoam o cenário único deste filme - uma casa de três andares - e vão surgindo “inesperadamente” de deixa em deixa, com uma carga teatral melodramática, quase "campy" e desgarrada. Eles por ali ficam, a debitar linhas de um guião cheio de reviravoltas incoerentes, usadas convenientemente para alimentar a simplicidade nervosa de um mistério em ebulição.

Todo este exagero, aliado aos recursos visuais, fazem "A Mulher à Janela" caminhar em sentido inverso ao que Wright pretendia: afasta-nos de Anna, retira-nos da atmosfera sombria e desliga completamente a nossa atenção. Como a de própria protagonista, que ao contrário de James Stewart em "Janela Indiscreta", parece ter um dom para não conseguir tirar fotografias dos momentos mais importantes e reveladores. Que conveniente... num filme cheio de buracos de lógica.

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