O filme que o artista visual português Pedro Neves Marques vai estrear no festival de Roterdão, nos Países Baixos, é o culminar de um trabalho criativo multidisciplinar sobre família, reprodução e identidade de género, como explicou, em entrevista à agência Lusa.

“Tornar-se um homem na Idade Média” é um filme de ficção que Pedro Neves Marques mostrará no festival de cinema de Roterdão, apenas online, em contexto de pandemia, e numa competição oficial de curtas-metragens.

“Este filme começou como uma história que escrevi em 2019, que foi adaptada para uma instalação audiovisual num museu [em Itália] e nessa altura percebi que o resultado final que eu queria era isto que vai ser estreado”, disse o realizador.

“Tornar-se um homem na Idade Média” “é uma história bastante íntima entre dois casais. Um casal tem um problema de fertilidade e outro casal, ‘gay’, recorre a um processo experimental para tentar ter uma experiência de gestação”, descreveu.

Pedro Neves Marques, artista trans não-binário, um dos protagonistas da curta-metragem, diz que este é um filme “bastante pessoal e íntimo”, que advém das suas próprias experiências e de pessoas em seu redor.

“Os meus filmes são sempre muito políticos em relação a questões sociais, dos nossos dias, mas eu gosto de trabalhar a partir de um ponto de vista mais especulativo (...). Para mim a ficção é perfeita”, disse.

Por motivos criativos ou de financiamento, a ideia do filme foi sendo trabalhada desde 2019, desdobrada e apresentada noutros formatos, como aconteceu numa instalação multimédia em Itália, ou a exposição “Corpos medievais”, em 2021, na Cordoaria Nacional, em Lisboa.

O filme estreia-se em Roterdão, enquanto Pedro Neves Marques aguarda o desfecho do concurso da Direção-Geral das Artes sobre a representação de Portugal na Bienal de Arte de Veneza.

O projeto “Vampires in Space”, de Pedro Neves Marques, apresentado pelos curadores João Mourão e Luís Silva, foi selecionado para representar Portugal na bienal, em abril, mas o concurso está ainda numa fase de recurso.

Bruno Leitão, curador que apresentou a concurso o projeto “A Ferida”, de Grada Kilomba – que ficou em segundo lugar – contestou o processo de seleção, questionando os critérios de avaliação do júri.

Apesar da polémica gerada, Pedro Neves Marques escusou-se a fazer comentários ao processo, por estar ainda a decorrer.

Pedro Neves Marques nasceu em Lisboa, em 1984, viveu uma temporada em Nova Iorque até regressar à capital portuguesa pouco antes da pandemia da COVID-19, para se dedicar agora mais à escrita e à editora independente de poesia Livros do Pântano, que criou em 2020 com Alice dos Reis.

Dos projetos que está a desenvolver, admite que possam abordar a pandemia da covid-19.

“Acho que é inevitável alguma coisa entrar nos processos criativos e no meu tem entrado. No meu caso é a questão da saúde mental”, disse.

Pela editora Livros no Pântano, que conta apenas com três títulos publicados, Pedro Neves Marques quer também suscitar um debate sobre escrita e o uso das palavras sobre identidade de género.

“Sou uma pessoa trans não-binária. É um exercício de escrita. É uma coisa que, não sendo um objetivo ou uma linha da editora, os três autores que publicámos são trans e não-binários. É para exercitar a linguagem de como escrever. Não é premeditado, é natural”, disse.

“Tornar-se um homem na Idade Média” estrear-se-á online no festival de Roterdão, mas deverá ser exibido em sala nos Países Baixos, na primavera.

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