Dos best-sellers de Sally Rooney ao ator Paul Mescal, a Irlanda, onde decorrem as eleições legislativas esta sexta-feira, tem desfrutado de um renascimento cultural e criativo nos últimos anos.
Nas últimas semanas tem sido difícil perder o quarto romance de Rooney, "Intermezzo", a nomeação para os prémios Grammy dos Fontaines D.C. ou os músculos de Mescal em cartazes e trailers de "Gladiador II".
“Estamos a viver um momento cultural e neste momento há muita energia à volta do tudo o que é irlandês”, diz à agência France-Press Ruth Barton, professora de estudos cinematográficos na Trinity College Dublin.
O fenomenal sucesso global da adaptação televisiva de "Normal People", de Rooney, que apresentou Mescal ao mundo, desempenhou um papel fundamental.
"Acredito definitivamente que há uma nova vaga de escritores e romancistas irlandeses - especialmente mulheres - que criaram livros sobre experiências que não foram articuladas antes", nota Christopher Morash, professor de escrita irlandesa na Trinity.
Escritores, músicos e cineastas irlandeses têm sido elogiados pelo seu humor e por serem terra-a-terra.
“O perfil, particularmente a nível internacional, dos artistas irlandeses em todas as formas artísticas nunca foi tão elevado”, destaca Maureen Kennelly, diretora do Arts Council of Ireland.
Isto levou à cooperação intercultural, por exemplo, com o vencedor do Óscar Cillian Murphy como protagonista de "Small Things Like These", a adaptação do best-seller da autora irlandesa Claire Keegan, e os Fontaines D.C. produziram a banda sonora de filme "Bird", de Andrea Arnold, que tem à frente das câmaras Barry Keoghan, também natural de Dublin e nomeado para as estatuetas douradas por "Os Espíritos de Inisherin".
Barton diz que ajudou a presença de gigantes multinacionais da tecnologia como a Meta e a Apple na Irlanda, devido aos baixos impostos.
"O país tem mais dinheiro do que costumava ter... somos fundamentalmente um país rico e gastámos muito dinheiro em cultura", acrescentou.
O orçamento do Arts Council aumentou desde 2019, a academia de teatro da Trinity, The Lir, tornou-se um foco de novos talentos, enquanto o país até lançou um rendimento mínimo experimental para artistas, que os principais partidos políticos prometeram continuar.
Orgulho e aplausos
“Penso que o país sempre se definiu através da sua cultura e particularmente dos seus escritores e poetas”, diz Barton, apontando para nomes como James Joyce e Samuel Beckett, que ganharam fama mundial.
Para Kennelly, os períodos de expansão cultural coincidiram com “mudanças sísmicas” na sociedade, sendo as últimas os anos finais das três décadas de violência sectária sobre o domínio britânico na Irlanda do Norte.
Isso trouxe nomes como os U2 e Cranberries para o cenário global.
Morash compara a enorme influência cultural da Irlanda à da Coreia do Sul, onde o K-Pop se tornou o seu maior produto de exportação global.
“Tínhamos um país agrícola que se transformou num centro de cultura pop”, acrescentou.
Agora a Irlanda é 'cool' no exterior por causa de uma nova geração de atores: Mescal e Murphy são nomes conhecidos ao lado de Saoirse Ronan ("Blitz", "Lady Bird", "Brooklyn"), Andrew Scott ("Fleabag", "Sherlock Holmes", "Ripley") e Nicola Coughlan ("Bridgerton", "Derry Girls").
Murphy, que nasceu em Cork, no extremo sul da Irlanda, falou este ano do orgulho pelo seu país no discurso de aceitação do Óscar de Melhor Ator por "Oppenheimer", terminando com um sincero agradecimento - na língua irlandesa.
O sucesso inesperado de "Kneecap", uma comédia que dramatiza com os próprios a história dos três novatos de Belfast que fazem rap na língua antiga, marca o início de uma nova viragem em direção à língua irlandesa "como uma espécie de meio de expressão cultural", disse Barton.
O filme foi nomeado em 14 categorias dos British Independent Film Awards em dezembro e selecionado para representar a Irlanda na categoria de Melhor Filme Internacional nos Óscares do próximo ano.
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